PF investiga excesso de água e falha na drenagem da barragem de Brumadinho
Investigadores buscam acesso aos dados de um radar da empresa, que monitorava a estrutura em tempo real, e de sensores, para investigar o papel da mineradora na tragédia; cinco engenheiros presos no dia 29 foram libertados nesta quinta
BRASÍLIA - Com base nos depoimentos e perícias feitos até agora, a Superintendência da Polícia Federal investiga como principal hipótese para o colapso da barragem de Brumadinho (MG) o acúmulo anormal de água e a falha no sistema de drenagem. Os investigadores buscam agora acesso a dados de um radar, que a cada três minutos produzia informações em tempo sobre a estrutura, e de sensores da Vale, para avançar nas conclusões.
Essas informações, segundo apurou o Estado, são consideradas as peças centrais para verificar se houve ou não negligência por parte da Vale na tragédia que tinha, até esta quinta, 157 mortos e 182 desaparecidos. Na prática, podem apontar se ocorreram comportamentos incomuns na estrutura do Córrego do Feijão nos momentos que antecederam o rompimento, ou mesmo dias antes. O Estado apurou que a PF não teve acesso às informações.
Veja imagens do rompimento de barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho
1 / 37Veja imagens do rompimento de barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho
Tragédia em Minas Gerais
A Agência Nacional de Mineração (ANM) declarou que a mineradora Vale vistoriou, em dezembro de 2018, estrutura da barragem de Brumadinho sem ter apont... Foto: Washington Alves/ReutersMais
Moradores
É comum ver imagens de moradores de Brumadinho olhando para o horizonte em silêncio Foto: Mauro Pimentel/AFP
Catástrofe ambiental e humana
Bombeiro recolhe gaiolas no meio do mar de lama da catástrofe de Brumadinho. Foto: Adriano Machado/Reuters
Animais
Equipes de resgate voluntáriastentaramsalvar a vaca que esta atolada na lama de rejeitos de ferro. O animal teve que ser sacrificado. Foto: Wilton Junior/Estadão
Dificuldade no resgate
Bombeiros têm dificuldade de acessar algumas áreas para fazer o resgate dos sobreviventes Foto: Douglas Magno/AFP
Tragédia em Minas Gerais
Uma barragem de rejeito se rompeu em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte. Foto: Douglas Magno/AFP
Tragédia em Minas Gerais
Lama destruiu estrada em Brumadinho. Foto: Washington Alves/Reuters
Tragédia em Minas Gerais
A tragédia aconteceu na altura do km 50 da Rodovia MG-040. Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
Tragédia em Minas Gerais
As barragens pertencem à mineradora brasileira Vale. Foto: Washington Alves/Reuters
Catástrofe ambiental e humana
Bombeiros tentam, sem sucesso, resgatar uma vaca atolada após rompimento de barragem. Foto: Adriano Machado/Reuters
Tragédia em Minas Gerais
Segundo informações do site da Vale sobre as barragens da região, a estrutura que se rompeu foi construída em 1976. Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
Tragédia em Minas Gerais
A prefeitura de Brumadinho pediu que a população mantenha distância do leito do Rio Paraopeba, que é um afluente do São Francisco. Foto: Douglas Magno/AFP
Tragédia em Minas Gerais
A Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), responsável pelo abastecimento de água na região metropolitana de Belo Horizonte, afirmou que não ... Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas GeraisMais
Tragédia em Minas Gerais
Segundo a Vale, a área administrativa, onde estavam os funcionários, foi atingida, assim como a comunidade da Vila Ferteco. Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
Tragédia em Minas Gerais
Os bombeiros enviaram equipes com policiais civis e militares, além de enfermeiros e medicamentos. Foto: Washington Alves/Reuters
Tragédia em Minas Gerais
Kombi foi soterrada pela lama após o rompimento da barragem em Brumadinho. Foto: Washington Alves/Reuters
Tragédia em Minas Gerais
Casa foi destruída e foi soterrada pela lama após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho. Foto: Washington Alves/Reuters
Tragédia em Minas Gerais
O governo federal montou um gabinete de crise em Brumadinho. Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
Tragédia em Minas Gerais
Moradores de Brumadinho observam a lama que atingiu a cidade. Foto: Washington Alves/Reuters
Tragédia em Minas Gerais
No município de Brumadinho vivem cerca de 40 mil pessoas. Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
Tragédia em Minas Gerais
O rompimento das barragens da Vale aconteceu na tarde de 25 de janeiro de 2019. Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
Tragédia em Minas Gerais
O presidente Jair Bolsonaro fez pronunciamento no Palácio do Planalto, em Brasília, sobre a tragédia em Brumadinho. Foto: Ernesto Rodrigues/Estadão
Presidente Bolsonaro
Presidente Jair Bolsonaro observa destruição causada após rompimento de barragem da Vale em sobrevoo a Brumadinho Foto: Isac Nóbrega/Presidência da República
Tragédia em Minas Gerais
Voluntários trazem doações para as vítimas da tragédia em Brumadinho. Foto: Paulo Fonseca/EFE
Tragédia em Minas Gerais
Bombeiros retomaram os trabalhos na manhã deste sábado, 26. Foto: Corpo de Bombeiros de Minas Gerais
Tragédia em Minas Gerais
Fernando Nunes de Araujo é uma das dezenas de pessoas que começam a chegar na faculdade ASA de Brumadinho, onde deve ser divulgada a primeira lista de... Foto: Wilton Junior/EstadãoMais
Tragédia em Minas Gerais
Fernando Nunes de Araujo é uma das dezenas de pessoas que começam a chegar na faculdade ASA de Brumadinho, onde deve ser divulgada a primeira lista de... Foto: Wilton Junior/EstadãoMais
Batalha pela Vida
Bombeiros voltam enlameados após resgate em uma das áreas atingidas pelorompimento da barragem de rejeitos de Brumadinho, em Minas Gerais. Foto: Wilto...Mais
Estrada
Moradores observam trabalho dos bombeiros em estrada bloqueada pela lama em Brumadinho (MG) Foto: Wilton Junior/Estadão
Carro atolado
Um carro ficou atolado e destruído no meio da lama após o rompimento de barragem em Brumadinho (MG) Foto: Wilton Junior/Estadão
Helicoptero
Um helicóptero sobrevoa a cidade de Brumadinho, buscando vítimas após o rompimento da barragem Foto: Wilton Junior/Estadão
Bombeiros tentam encontrar sobreviventes em Brumadinho
Bombeiros tentam encontrar sobreviventes em Brumadinho após rompimento de barragem Foto: Washington Alves/Reuters
Corpo encontrado
Bombeiros carregam o corpo de uma das vítimas do rompimeto da barragem em Brumadinho até posto montado em frente da Igreja de Nossa Senhora das Dores Foto: Wilton Júnior/Estadão
Ponte
Ponte arrastada pela lama nas proximidades da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho, MG, de propriedade da Vale Foto: Antonio Lacerta/EFE
Área devastada
Área devastada pela lama após o rompimento da barragem do Córrego do Feijão,de propriedade da mineradora Vale Foto: Wilton Júnior/Estadão
Equipe de resgate
Grupo de resgate caminha sobre a lama em busca de vítimas do rompimento da barragem do Córrego do Feijão, emBrumadinho (MG), de propriedade da Vale Foto: Antonio Lacerda/EFE
Resgate aéreo
Equipe de resgate usa helicóptero para procurar vítimas do rompimento da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), de propriedade da Vale Foto: Giazi Cavalcante/Código 19
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O chamado “radar interferométrico” estava instalado no solo, fixado em uma área próxima da barragem de rejeito. Os demais sensores, “piezômetros”, ficavam instalados dentro da estrutura. As duas ferramentas são medidas de segurança utilizadas para reduzir riscos, com base no controle preciso de qualquer movimentação. A PF já tem a informação fornecida por um engenheiro da empresa que fiscalizava a barragem, de que, 15 dias antes do rompimento, foram captadas “discrepâncias” pelos sensores.
O Estado questionou a Vale a respeito e solicitou acesso aos dados recolhidos nas 24 horas que antecederam o colapso, mas a empresa não deu informações sobre os equipamentos e negou acesso a dados. Limitou-se a informar que “se absterá de fazer comentários sobre particularidades das investigações, de forma a preservar a apuração dos fatos pelas autoridades”.
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Prisões
Presos no dia 29, os executivos da Vale Cesar Augusto Grandchamp, Ricardo de Oliveira e Rodrigo Artur Melo foram libertados nesta quinta-feira, 7, da Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem (MG). Também foram soltos, atendendo habeas corpus do Superior Tribunal de Justiça (STJ), os engenheiros terceirizados da consultoria alemã Tüv Süd que atestaram estabilidade da barragem, André Yassuda e Makoto Mamba. Nenhum deles falou na saída.
Em depoimentos incluídos pela PF no inquérito que apura o rompimento, os técnicos da Tüv Süd deixam claro que a barragem da Vale vinha enfrentando problemas com excesso de água e medidas de drenagem desse material tinham de ser executadas. Segundo Namba, a Vale decidiu escolher uma nova alternativa tecnológica para retirar a água. A empresa havia instalado drenos horizontais profundos (DHPs) com comprimentos de 100 metros. Em junho de 2018, um desses drenos causou um “fraturamento hidráulico” e “erosão”.
Por causa desses problemas, a Tüv Süd orientou a Vale a adotar alternativa para drenar a água de nascentes sobre a barragem e de seu lençol freático. A empresa, segundo Namba, deu início a um processo licitatório para contratar fornecedor, que não teria sido concluído. Para especialistas, o atraso em obras poderia ser um “gatilho” para problemas de liquefação.
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Imagens de satélites, anexadas à investigação, apontam acúmulo de água incomum na estrutura, antes da tragédia. “O que se espera em uma barragem de rejeito é a máxima capacidade de escoamento da água pelos sistemas de drenagem instalados, com o avanço do processo de consolidação do material, por ação exclusiva da expulsão de água dos vazios”, disse o presidente do Comitê Brasileiro de Barragens, Carlos Henrique Medeiros. “Não considero normal tal situação (vista nas imagens), principalmente em uma barragem desativada. E muitos já aprenderam a respeitar a ação da água nas estruturas.
Em nota, a Vale informou que, sobre os itens mencionados pela Tüv Süd, todos foram atendidos ainda em 2018. “Cabe reforçar que se tratavam de recomendações rotineiras em laudos deste gênero. É importante ressaltar que a Tüv Süd emitiu Declarações de Condição de Estabilidade após duas inspeções que realizou no ano passado, atestando a segurança física e hidráulica da barragem”, disse. / COLABORARAM ROBERTA JANSEN e LEONARDO AUGUSTO, ESPECIAL PARA O ESTADO