A Polícia Militar (PM) instaurou hoje um Inquérito Policial Militar (IPM) e determinou a prisão administrativa por 72 horas de um cabo e um soldado do 6º Batalhão de Polícia Militar (BPM) suspeitos de metralhar por engano o carro de uma família e matar o menino João Roberto Amorim Soares, de 3 anos, ontem, na Tijuca (bairro de classe média da zona norte do Rio). João Roberto voltava para casa com a mãe, a advogada Alessandra Soares, e o irmão Vinícius, de 9 meses, de uma festa. A morte cerebral de João Roberto foi confirmada hoje pela equipe médica que o atendeu no Hospital Copa D'' or. Alessandra teve ferimentos leves por estilhaços de bala e Vinícius nada sofreu. Ontem, o cabo Elias Gonçalves da Costa Neto e um soldado que não teve o nome divulgado trafegavam em patrulhamento rotineiro na Rua Uruguai, quando avistaram cerca de quatro homens dentro de um Fiat Stilo preto em atitude suspeita. Minutos antes, Costa Neto e o soldado receberam um informe pelo rádio que relatava assaltos nas proximidades de onde estavam. Segundo o cabo afirmou em depoimento na delegacia, quando o carro da PM se aproximou do Fiat, o motorista acelerou em fuga e a perseguição foi iniciada. Em poucos minutos, os suspeitos entraram na Rua General Espírito Santo Cardoso, onde houve o tiroteio. A rua, onde fica a delegacia de polícia, é caminho para pelo menos três morros da região - do Cruz, do Borel e da Formiga. A mãe do menino voltava para casa dirigindo o Fiat Palio Weekend grafite. Estava a menos de 50 metros da esquina do prédio onde mora, quando percebeu um carro da polícia em alta velocidade atrás. Em frente ao número 399 da mesma via, encostou o automóvel para dar passagem. O cabo e o soldado saíram do veículo, posicionaram-se atrás dele e dispararam com fuzil e pistola. Hoje, ainda havia cápsulas deflagradas num bueiro da rua. Em depoimento na delegacia, Costa Neto e o soldado afirmaram que o carro de Alessandra ficou no meio do fogo cruzado porque os criminosos atiraram contra eles. No entanto, testemunhas ouvidas pela reportagem, que pediram para não ser identificadas por temer represálias, afirmam que os policiais se confundiram. Uma dona de casa que mora em frente ao local disse que a mãe de João Roberto chegou até a jogar pela janela do automóvel uma bolsa infantil na tentativa de chamar a atenção dos policiais. Veículo O veículo de Alessandra, estacionado na mesma rua, foi perfurado por um tiro. A advogado disse que os policiais só pararam de atirar quando ela saiu do carro, gritando que eles tinham matado um dos filhos. Segundo Alessandra, quando os policiais se deram conta que haviam disparado contra o automóvel, começaram a gritar, pegaram João Roberto e a mãe, puseram correndo na viatura e levaram para o Hospital do Andaraí, onde eles receberam o primeiro atendimento. Uma professora de 58 anos que também mora em frente ao local disse que viu quando um dos PMs colocou as mãos na cabeça, como um sinal de preocupação e desespero. Para ela, está claro que os policiais se confundiram porque o veículo tem película automotiva, o que impedia que vissem quem estava dentro dele. A professora disse que viu tudo e que os policiais dispararam muitos tiros contra o carro da advogada. O carro dos supostos criminosos, o Fiat preto, havia deixado o local e tinha até batido em dois que estavam parados na rua. A professora disse que viu quando um dos policiais pegou o bebê de dentro do carro e entregou a um morador. Depois, retirou João Roberto, ensangüentado (dos tiros na cabeça e no glúteo) do automóvel, pegou a mãe e levou para o hospital. O morador que cuidou do bebê, um cabeleireiro de 57 anos, disse que Vinícius não parecia assustado, nem estava ferido. Ele declarou que limpou a cabeça da criança, que tinha muitos cacos de vidro das janelas perfurada, e ficou com ele em frente ao prédio onde mora até o pai do menino surgir correndo e berrando pela rua perguntando onde estava o filho. A região, segundo os moradores, é muito perigosa. Emocionado pela morte de João Roberto, o segurança do prédio onde mora a família disse que não são raros os roubos de veículos, bicicletas e pedestres. Ele afirmou que ouvir tiros dos morros próximos é rotina e que ali, apesar de ser um local com muitas casas e vilas, ninguém fica na rua à noite.
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