A polícia suíça parecia envolvida em um filme de ação. No sábado pela manhã, o cineasta franco polonês Roman Polanski foi detido em Zurique pelas autoridades locais, em uma invasão de seu hotel por agentes de segurança. Os suíços atenderam a um pedido do governo americano, que há 31 anos emitiu um mandado de prisão contra Polanski. A acusação é de que ele estaria envolvido em um estupro em 1977, envolvendo uma menor de 13 anos. Ontem, o caso já havia se transformado em polêmica diplomática entre Estados Unidos, Suíça e França. A escolha de Polanski, na época, foi fugir dos Estados Unidos. Passou a viver em Paris e hoje tem o status de fugitivo internacional. Em maio, uma corte de Los Angeles recusou um apelo dos advogados de Polanski, de 76 anos, para suspender a acusação. Polanski mora há 30 anos na França e não compareceu para depor. Para o juiz americano, Polanski teria de retornar aos Estados Unidos para fazer o apelo.O cineasta, que marcou o cinema com O Bebê de Rosemary e Chinatown, viajou para a Suíça para receber um prêmio do Festival de Cinema de Zurique. Segundo o jornal Los Angeles Times, a Procuradoria do condado Los Angeles, na Califórnia, planejou a detenção de Polanski quando soube que o cineasta iria à Suíça receber tal prêmio. Segundo o jornal, em pelo menos duas ocasiões anteriores a Procuradoria preparou os trâmites para a detenção pois sabia que o cineasta visitaria países que mantêm tratados de extradição com os EUA. Mas ele não foi.A Justiça suíça alega que apenas fez cumprir um mandado de prisão reeditado em 2005. Mas ele não será enviado aos Estados Unidos até que o processo de extradição seja completado, o que pode levar alguns meses. O tribunal ainda deixou claro que ele pode apelar à decisão de ser extraditado. "Não havia razão para não cumprir um mandado válido", afirmou a ministra da Justiça suíça, Eveline Widmer-Schlumpf, informando que o cineasta está mantido em custódia. Aos EUA, agora, será dado um prazo para pedir a extradição. A "relação sexual ilegal" que ele manteve teria ocorrido na casa de Jack Nicholson, em Hollywood. A explicação foi de que a suposta vitima havia concordado e já teria experiência sexual anterior. No final dos anos 70, Polanski chegou a ser preso nos Estados Unidos. Ele admitiu a relação e permaneceu 42 dias em prisão, passando por testes psiquiátricos. Mas, antes de ser condenado, conseguiu fugir dos Estados Unidos. A própria vítima, Samantha Geimer, também já havia pedido o fim do caso, alegando que afetava sua vida privada. Sem poder retornar aos Estados Unidos, o Oscar concedido a ele em 2002 pela obra O Pianista foi recebido por Harrison Ford. Ontem mesmo, as diplomacias europeia e americana já entraram em ação. O cineasta é cidadão francês e o governo de Nicolas Sarkozy fez questão de deixar claro que não ficou satisfeito com a prisão. O ministro de Cultura, Frederic Mitterrand, afirmou que "lamenta a decisão contra alguém que já sofreu tanto". Segundo ele, Sarkozy segue "de perto" o caso e deixou claro que esperava que a situação fosse "rapidamente resolvida". A menção de Mitterrand aos sofrimentos de Polanski refere-se ao fato de que o cineasta, nascido na França, foi levado para a Polônia quando criança, escapando do bairro judeu de Cracóvia durante o domínio nazista. Foi criado por estranhos pois a mãe morreu em Auschwitz. A Suíça assinou há dois meses um acordo com os Estados Unidos que permite uma maior cooperação judicial entre os dois países. O tratado foi assinado no marco da cooperação contra a corrupção e diante das acusações contra o banco UBS de lavagem de dinheiro com clientes americanos. Para evitar uma pena pesada, os suíços decidiram cooperar e entregaram nos últimos dois meses centenas de nomes de americanos com contas secretas na Suíça.
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