DETIDO -
Miguel Serpa: um dos líderes do MST no centro oeste paulista
A Polícia Civil de São Paulo prendeu ontem nove pessoas ligadas ao Movimento dos Sem-Terra, nos municípios de Iaras e Borebi, interior do Estado. As prisões fazem parte da Operação Laranja, que teve início às duas horas da madrugada, com o objetivo de cumprir 20 mandados de prisão e outros 30 de busca e apreensão. Entre os detidos estão uma vereadora de Iaras e um ex-prefeito, ambos filiados ao PT.
A operação foi desencadeada em decorrência das investigações destinadas a apurar e apontar responsáveis pela invasão da Fazenda Cutrale, em Borebi, outubro do ano passado. O episódio ficou conhecido por causa da divulgação de imagens mostrando a destruição de pés de laranja na fazenda.
De acordo com o delegado Roberval Antonio Fabbro, assistente da Delegacia Seccional de Bauru, onde está centralizada a operação, os militantes estão temporariamente detidos. São acusados por formação de quadrilha, furto, dano qualificado e esbulho possessório.
O delegado também informou que das noves pessoas presas, sete estavam na lista de nomes com prisões decretadas. As outras duas foram detidas em flagrante, acusadas de porte ilegal de armas.
Segundo Fabbro, seis armas foram localizadas, sendo que uma delas seria de uso restrito. Defensivos agrícolas, fertilizantes, ferramentas, documentos e aparelhos eletrônicos também teriam sido apreendidos.
As ordens de prisão foram expedidas pelo juiz Mário Ramos dos Santos, da 1ª Vara Criminal de Lençóis Paulista. Entre os detidos encontram-se o ex-prefeito de Iaras, Edilson Granjeiro Xavier, filiado ao PT; a vereadora Rosemeire Pandarco de Almeida Serpa, também petista; e o marido dela, Miguel Serpa, um dos líderes do MST na região da fazenda da Cutrale.
Até ontem à noite, o advogado do MST, Bruno de Oliveira, ainda não havia conseguido obter informações oficiais sobre as prisões, nem sobre o inquérito que deu origem à Operação Laranja. O advogado, integrante da Rede Nacional de Advogados Populares, também não tinha obtido a lista com os nomes completos dos detidos. "Sei apenas que são lideranças do MST na região", disse ele.
Na opinião do advogado, a operação tem caráter político. "O ex-prefeito e a vereadora de Iaras não tem nada a ver com o episódio", afirmou. "Estamos vendo que se trata de uma operação com objetivos políticos, disfarçada de operação legal."
Oliveira também observou que a questão principal não está sendo tratada: "Os sem-terra invadiram uma área de terra pública, que foi ocupada indevidamente por uma empresa privada. Em vez de exigir a desocupação da área e destiná-la à reforma agrária, como manda a lei, estão caçando militantes do movimento social."
De acordo com a polícia, parte das investigações continuará sendo mantida em sigilo, para se garantir a elucidação dos fatos. Segundo o delegado Fabbro, esse procedimento é garantido pelo Código Penal.
Cerca de 150 policiais foram mobilizados na operação. Em nota sobre o assunto, a direção estadual do MST acusou os policiais de "promoverem o terror em algumas comunidades". Também manifestaram o temor de o cerco policial na região se mantenha por mais dias.