Política, mentiras e videotapes

A participação de George W. Bush na Convenção Democrata.

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Por Lucas Mendes

Desde quando políticos ficam em silêncio para assistir a videotapes? As duas primeiras horas da convenção republicana ofereceram uma coleção de vídeos que tinham uma virtude em comum: eram curtos. O de abertura era inspirado no texto de uma adolescente sobre a bandeira americana. O recinto transbordava patriotismo com os lemas "country first" e "service", mas perto da convenção democrata parecia regimentada como festa em quartel. Um dos objetivos da noite era realçar os valores do senador McCain que, ao contrário de Obama, põe o país acima da política. E "service", no sentido de servir o país, é a virtude número um de McCain pelo plano republicano. Filho e neto de almirantes, piloto de combate e prisioneiro de guerra durante 5 anos e meio, sofreu torturas brutais. A história foi contada com uma riqueza de detalhes sem precedentes por Fred Thompson, ex-senador, ex-ator e ex-candidato à presidente. Com as pancadas que aplicou em Obama, ele acordou a convenção. Antes de Thompson, a filha adotiva de McCain foi uma das imagens mais fortes da noite. A adolescente, nascida em Bengladesh, foi usada pela campanha de George W. Bush em 2000 para acusar McCain de ser pai de uma filha negra ilegítima. Laura, a mulher do presidente, uma presença sempre popular, apresentou o marido, cada dia menos prestigiado no país, mas que ainda tem o apoio de 70% dos republicanos. Não ficou claro porque Bush preferiu aparecer via satélite da Casa Branca em vez de ir à convenção. A melhor explicação é distância - quanto mais longe de McCain, maiores as chances do candidato republicano com independentes e democratas decepcionados com Barack Obama. O presidente fez um discurso curto, metade sobre o forte dele, segurança, metade sobre as virtudes de John McCain. Como outros oradores, evitou a falar sobre a economia, mas vários lembraram que o democrata vai aumentar impostos. Preço da gasolina? Inflação? Desemprego? Déficit? Dólar? Nenhuma palavra. A maioria dos americanos acha que Bush evitou um outro ataque terrorista, mas um número cada vez maior percebe que o país gastou bilhões com segurança, mas não construiu um novo aeroporto, novas estradas e as pontes estão caindo. Não há uma grande construção americana que se compare às chinesas no mesmo período. Sete anos depois da destruição das torres nada foi reconstruído no lugar. O choque da noite ficou por conta do senador Joe Lieberman, que há oito anos era o candidato à vice-presidente de Al Gore pelo partido democrata. Foi uma decepção. Ele se tornou independente e é amigo intimo de McCain, tão íntimo que foi considerado para vice-presidente, barrado pela resistência das bases porque, entre outros liberalismos, é a favor do aborto. Dele se esperava um discurso pró-McCain, mas foi muito além e atacou a falta de preparo de Barack Obama para ser presidente. Um choque nos democratas. Onde estava este orador feroz e agressivo há oito anos? Qual o cargo espera o senador se McCain for eleito? Hoje ele é um pária no Senado e não participa das reuniões de nenhum dos dois partidos. Sem estar presente, uma das maiores estrelas da noite foi a candidata à vice-presidente Sarah Palin. De um dia para outro, ela se tornou uma modelo de mãe, esposa e líder política que enfrentou os líderes corruptos do próprio partido no Alasca e conquistou o governo do Estado. Muitas histórias são contadas pela metade. Antes de confrontar os líderes corruptos, quando ainda era prefeita, Sarah Palin aceitou US$ 24 milhões de um deles - o senador Ted Stevens - para projetos municipais. Depois, quando ambos estavam sob investigação, ela se rebelou contra o partido e deu o salto da prefeitura para o governo do Estado. Os dramas dela como mãe de um filho com síndrome de Down e de uma adolescente grávida aos 17 anos, de um dia para o outro foram transformados em situações capazes de comover todas as mulheres americanas. Na véspera da convenção, era uma mulher com pouca experiência para assumir a presidência. Nos discursos de ontem, Sarah Palin se tornou mais experiente em questões executivas do que Obama e Biden, juntos. Afinal, nenhum dos dois foi prefeito ou governador. Hoje, ao vivo, teremos a genial Sarah Palin. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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