Do abidjanês ao inglês e ao zapoteco, a percepção e os nomes das cores apresentam uma congruência surpreendente nas línguas do mundo. Em diferentes culturas, as pessoas tendem a classificar centenas de cores diferentes em oito categorias distintas: verde, vermelho, amarelo-laranja, azul, roxo, marrom, cor-de-rosa e "grue" (verde-azul), informam pesquisadores numa edição online do periódico Proceedings of the National Academy of Sciences. Em algumas línguas as cores se dividem em menos categorias, mas mesmo esses grupos são misturas dos oito grupos básicos, diz Delwin Lindsey, principal autor do estudo e professor de Psicologia da Universidade Estadual de Ohio. "Embora a cultura possa influenciar o modo pelo qual as pessoas dão nome às cores, dentro de nossas cabeças nós estamos vendo o mundo praticamente do mesmo jeito", disse ele. "Não importa se você é um nativo da Costa do Marfim que fala abidjanês ou um mexicano falante de zapoteco". Lindsey e a co-autora Angela Brown usaram dados da Pesquisa Mundial de Cores, uma coleção de nomes de cores fornecidos por 2.616 pessoas das 110 línguas - na maioria, ágrafas, isto é, sem versão escrita - faladas na maior parte das sociedades pré-industriais. As 320 cores da pesquisa são organizadas em oito fileiras, com 40 fichas de cor em cada fila (preto, branco e os tons de cinza estão, cada um, em uma categoria própria). Os pesquisadores usaram esse levantamento porque ele inclui povos de sociedades pré-industriais, onde o nome das cores ainda não foi, espera-se, contaminado pelo contato com as culturas industrializadas, onde a categorização das cores tende a refletir a usada na língua inglesa. Lindsey e Brown criaram um método estatístico que lhes permitiu determinar o número ótimo de categorias de cor, com base nos nomes descobertos no estudo. "Minha intuição era de que, se olhássemos para o mundo das diferentes culturas, as pessoas obviamente usariam nomes diferentes, mas que encontraríamos, talvez, 11 nomes usados para dividir o espaço das cores", disse Lindsey. "Não foi esse o caso". "Olhando para as culturas mais tradicionais, descobrimos que muitas têm menos nomes de cor, mas que esses nomes correspondem a cores que os falantes do inglês também discriminam na linguagem", explica ele. "Muitos povos não têm todas as categorias cromáticas do inglês, mas têm a maioria delas. E as categorias que não são exatamente inglesas acabam sendo o que chamamos de compósitos - combinações simples de categorias adjacentes". Isso explica categorias como "grue" e amarelo-laranja. Os pesquisadores encontraram, ainda, uma forte distinção entre cores quentes e frias nas culturas que têm apenas duas ou três cores genéricas. Essa distinção tende a coincidir com as cores que no inglês são vistas como quentes (amarelo, vermelho, laranja) e frias (azul, verde). "Embora haja alguma diversidade na localização das fronteiras entre as cores, há um limite absolutamente sólido comum a todas as culturas, que o que os falantes do inglês chamariam de quente e frio", diz Lindsey. O próximo passo da pesquisa será analisar a fisiologia da percepção da cor.