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Presença estatal é vista com desconfiança

Para analistas, mudanças presidenciais podem modificar planos da Petrobrás para o novo grupo

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A operação de incorporação da Quattor pela Braskem consolida o movimento de criação de grandes grupos nacionais em variados segmentos, que tem recebido forte apoio do governo federal. A avaliação, feita por especialistas, encontra respaldo dentro da própria Petrobrás, que defende a operação com o argumento de que é preciso musculatura para disputar o mercado global. No caso da petroquímica, porém, a maior presença estatal é vista com desconfiança por alguns analistas. "Foi assim com a telefonia e a fusão da Oi/Brasil Telecom, com a Aracruz/Votorantim no segmento de celulose e, na área de frigoríficos, com o JBS Friboi. Há uma tendência de formação de grandes grupos", aponta o diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires. As mesmas operações foram citadas em conversa recente do Estado com o diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, em defesa da compra da Quattor. Em todas elas houve alguma participação do governo, seja via fundos de pensão, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ou mudanças regulatórias.Como nos casos mencionados, é consenso no mercado que a incorporação da Quattor vai garantir maior poder de competição no mercado global. Também é semelhante o temor de riscos à concorrência com a criação de um monopólio interno. "Faltam organismos com autonomia, como as agências reguladoras, que defendam o consumidor de maneira independente", diz Pires. "É um mercado muito pulverizado, que não tem condições de importar volumes muito grandes junto a outros fornecedores internacionais", completa o analista de petróleo do Banco do Brasil, Nelson Rodrigues de Mattos. INFLUÊNCIA ESTATALA principal diferença, neste caso, é que se trata de um monopólio com grande influência estatal. Quase duas décadas após sair da petroquímica, por determinação do então presidente Fernando Collor de Mello, a estatal torna-se agora uma acionista muito importante, com papel decisivo dentro do processo de decisões, do oitavo maior grupo mundial do setor, monopolista na produção de resinas plásticas no País. Com controle praticamente compartilhado entre Petrobrás e Braskem, a nova empresa ficaria mais vulnerável a guinadas políticas."Quem garante que o eventual futuro presidente da República concorde com essa mudança?", questiona Adriano Pires. "Sabemos que a Petrobrás tem inclinação política, que os principais executivos são indicados politicamente e que a linha pode mudar a cada quatro anos", aponta o sócio da consultoria Maxiquim Otávio Carvalho, que, no entanto, acredita que a fatia majoritária da Braskem pode minimizar os riscos."Acredito que a empresa terá uma linha mais voltada para o setor privado", diz. Ele vê, porém, um grande componente geopolítico na decisão. "O petróleo do pré-sal também é matéria-prima para o setor petroquímico", argumenta, lembrando que o aproveitamento no País ou em parceiros da América do Sul pode fortalecer a posição brasileira no mercado internacional.

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