Presos 4 acusados de vender carne que ficou submersa na enchente do Rio Grande do Sul

Empresa comprou 800 toneladas de carne imprópria para consumo alegando que faria ração, mas revendeu como se fosse boa para humanos. Se não tivesse estragado, carga valeria R$ 5 milhões.

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Quatro pessoas foram presas em flagrante pela Polícia Civil do Rio de Janeiro nesta quarta-feira, 22, acusadas de vender carne imprópria para consumo porque ficou submersa na enchente que assolou o Rio Grande do Sul em maio e junho de 2024.

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A prisão ocorreu durante a Operação Carne Fraca, em que a Delegacia do Consumidor do Rio (Decon-RJ) cumpriu oito mandados de busca e apreensão na empresa Tem Di Tudo Salvados, em Três Rios, no sul fluminense, e em endereços ligados aos donos da firma. Entre os presos, está um dos proprietários, Almir Jorge Luís da Silva.

A reportagem tenta ouvir as defesas de Silva e dos demais presos na operação para que se pronunciem sobre as acusações.

Segundo a polícia, a empresa é autorizada a reaproveitar produtos vencidos, dando destinação adequada a eles. Usando essa autorização, a empresa comprou de um frigorífico gaúcho 800 toneladas de carne bovina, suína e de aves imprópria para consumo, por ter ficado submersa na água da chuva.

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A empresa alegou que faria ração para animais. Pela carne que, se estivesse própria para humanos, valeria R$ 5 milhões, a empresa pagou R$ 80 mil.

A carne embalada encontrada na empresa de Três Rios: suspeita de que se trata do mesmo lote que ficou submerso na enchente gaúcha Foto: Polícia Civil RJ

Em vez de fazer ração, no entanto, a Tem Di Tudo Salvados revendeu a carne para açougues e frigoríficos de todo o País como se ela fosse consumível. “A carne foi maquiada para esconder a deterioração provocada pela lama e pela água que ficaram acumuladas lá no frigorífico da capital gaúcha”, contou o delegado Wellington Vieira, da Decon-RJ, que agora procura frigoríficos e açougues que tenham comprado a carne estragada. “Todas as pessoas que consumiram essa carne correram risco de vida. Quando uma mercadoria fica debaixo d’água, adquire circunstâncias e condições que trazem risco iminente à saúde”, completou.

Por coincidência, uma das empresas que comprou a carne foi o frigorífico gaúcho que havia vendido para a Tem Di Tudo. Ao confirmar, pela numeração do lote, que se tratava da mesma carne, a empresa denunciou o caso à polícia, dando início à investigação, que teve o apoio da Delegacia do Consumidor da Polícia Civil do Rio Grande do Sul.

Carne estragada encontrada pela Polícia Civil na sede da Tem Di Tudo Salvados, em Três Rios Foto: Polícia Civil RJ

Ao entrar na Tem Di Tudo, nesta quarta-feira, os agentes encontraram mais alimentos aparentemente impróprios para consumo - pacotes de carne embalados a vácuo que podem ser do lote deteriorado de Porto Alegre, pedaços de carne pendurados em ambiente sem a temperatura adequada, produtos congelados em prateleiras enferrujadas e sacos de alimentos no chão.

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Segundo a Polícia Civil do Rio, os quatro presos vão responder pelo crime de vender ou ter em depósito mercadoria imprópria para o consumo, e também podem ser indiciados por associação criminosa, receptação, adulteração e corrupção de alimentos.