Arcaico, obscuro e inusitado são apenas alguns dos adjetivos usados para definir a prévia eleitoral do Estado de Iowa, conhecida como caucus, a primeira data no calendário da eleição presidencial americana. Mas, a despeito das recorrentes críticas, quer para um republicano ou um democrata, ficar entre os primeiros colocados na prévia do Iowa é vital para garantir a sobrevivência de uma candidatura. Em 2000, os respectivos vencedores democrata e republicano no Iowa, Al Gore e George W. Bush, foram depois escolhidos os candidatos de seus partidos à presidência. Em 2004, o senador democrata John Kerry começou a disparar nas pesquisas como o favorito entre os democratas após ganhar o caucus no Estado. A prévia acontece em 1784 locais, como escolas, bibliotecas ou edifícios públicos, nos 99 condados do Iowa. Entre as peculiaridades da prévia está o fato de que os respectivos representantes dos partidos republicano e democrata são escolhidos de formas distintas. Nome no papel Do lado republicano, o candidato é escolhido por voto direto. Moradores que comprovem ser residentes no Iowa e que sejam filiados ao partido - a filiação pode ser feita no própria dia da votação - escolhem seu candidato anotando o nome do postulante em pedaços de papel. Se a preferência for, por exemplo, pelo ex-governador Mitt Romney, basta anotar ''Mitt''. Os eleitores do ex-prefeito nova-iorquino Rudolph Giuliani podem tascar um informal ''Rudy'' no papel sem temer que o voto seja invalidado. No campo democrata, a escolha é bem distinta. Os eleitores se dividem publicamente em grupos, reúnem-se em cantos diferentes de um recinto e exprimem a sua preferência por um candidato e discutem os temas que julgam mais importantes na campanha. Outro grupo manifesta sua predileção por outro candidato e é encaminhado a outro canto do local. Para ser considerado representativo, o candidato precisa ter 15% dos votos. Os eleitores de um candidato que não obtiver 15% dos votos devem se reagrupar e optar por um candidato considerado com chances de ganhar. Na votação deste ano, o candidato democrata Denis Kucinich já determinou a seus correligionários que se ele não alcançar a marca de 15% eles devem apoiar o senador Barack Obama. Ainda entre os democratas, há também outro elemento altamente inusitado. No caso de dois candidatos terminarem a disputa empatados, o desempate pode se dar pelo arremesso de uma moeda, através do cara-ou-coroa. Candidaturas impulsionadas A prévia de Iowa também tem a característica de impulsionar a candidatura de azarões. Neste ano, entre os republicanos, o melhor exemplo é Mike Huckabee, que, segundo pesquisas, ocupa a liderança entre os candidatos de seu partido. Do lado democrata, algumas pesquisas dão vantagem a Barack Obama, apesar de, nacionalmente, a senadora Hillary Clinton estar à frente nas pesquisas. Subestimar a prévia de Iowa por vezes pode custar caro a um candidato. E aqueles que exploram as possibilidades do caucus muitas vezes colhem os dividendos eleitorais mais à frente. É o que explica Jack Lufkin, curador da exposição Caucus Iowa, que está sendo exibida em Des Moines. ''Em 1980, Ronald Reagan mal fez campanha em Iowa, porque achava que a eleição já estava no papo. O resultado é que ele acabou ficando em segundo, perdendo para George Bush (o pai do atual líder americano). Mas Reagan aprendeu com seus erros.'' Por conta de ter começado em desvantagem em Iowa, Reagan teve de fazer campanhas mais intensas nas prévias e primárias realizadas na seqüência, o que acabou levando-o à Casa Branca. Carter A Presidência dos Estados Unidos também acabou sendo o destino do político que, em 1976, primeiro percebeu o potencial do caucus que dá início à corrida presidencial - o então governador do Estado da Georgia, Jimmy Carter. Na ocasião, Carter praticamente se mudou para o Estado, juntamente com sua família, e começou a bater de porta em porta na casa de fazendeiros e moradores locais. Após sair do semi-anomimato para o segundo lugar em Iowa, Carter começou a chamar a atenção dos eleitores americanos e conseguiu chegar à Casa Branca mesmo tendo promovido uma campanha discreta e com orçamento escasso. A exemplo de Carter, os políticos atuais também procuram interagir intensamente com locais e percorrer diversas partes do Estado. Boa parte dos candidatos visitaram todos os 99 condados do Iowa e muitos praticamente se mudaram para o Estado. Mas, ao contrário da modesta campanha de Carter, a maioria vem investindo milhões para atrair os eleitores de Iowa. Para convencer os moradores a irem aos locais dos caucuses, a lei eleitoral americana permite que candidatos ofereçam ônibus para seus simpatizantes e dêem presentes, que vão desde camisetas e broches até a contratação de escavadeiras que permitam retirar o gelo que dificulta o acesso às estradas de Iowa nesta gélida época de inverno. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
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