Duas semanas após ter as pernas decepadas pelo motor de uma lancha, em Itacuruçá (sul fluminense), a professora Andréa Lisboa Salgado, de 33 anos, deixou neste sábado o Hospital de Clínicas de Jacarepaguá, na zona oeste, esbanjando bom-humor e otimismo. Recebida por parentes e amigos, vestidos com uma camiseta em que se lia a mensagem ?Andrea, vitória, nós te amamos?, falou animada, durante meia hora, sobre a sua recuperação. Agradeceu a Deus e a todos que a apoiaram, revelou planos profissionais e disse que não via a hora de chegar à casa da madrinha do marido, onde vai morar temporariamente, para encontrar os filhos de 7 e 4 anos e cair na piscina. Sem cena - ?Estou ótima. Sou assim, alegre. Quem me conhece sabe disso. Não é cena. Sei dos contratempos. Sei que vai ter dia em que vou jogar a prótese pela janela. Mas não vou perder a esperança. Qualquer dia vocês vão me ver aí andando?, disse, ao lado do marido, Orlando Salgado, 36 anos. Logo no início da coletiva, deixou claro que vai procurar levar sua vida normalmente e rechaçou qualquer sentimento de pena. ? Já falei que não quero que ninguém me trate de coitada, porque não sou coitada. Sou uma pessoal normal, só não tenho pernas?. Mensagem - Em trechos de seu diário, lidos na entrevista, Andréa trata a amputação das pernas como ?um fardo? e ?uma missão? de Deus. Caberia a ela, uma pessoa ?de bem com a vida?, levar uma mensagem de fé, esperança e otimismo para aqueles que passam por dificuldades semelhantes. Por isso, embora deva continuar a fazer transporte escolar, pretende também escrever um livro para contar a sua história e abrir uma clínica para atender deficientes físicos carentes. ?Quero fazer faculdade de Fisioterapia e me especializar em órtese e prótese?. Na semana que vem, ela vai para Sorocaba colocar próteses. Justiça rápida - Sobre o acidente com a lancha, que também provocou a morte do estudante Gabriel Borges da Silva, de 16 anos, a professora disse esperar que a Justiça ?seja a mais rápída possível?. Na quinta-feira, ela vai à Itacuruça para depor. Até agora, duas pessoas foram indiciadas por lesões corporais e homicídio culposo, mas o advogado de Andréa, Ary Bergher, quer que eles denunciados por homicídio doloso.