Programa Antártico vai muito além da estação incendiada

O Proantar agora terá de ser reestruturado e modernizado, dizem especialistas; metas já estavam nos planos dos cientistas que trabalham no projeto

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Por Giovana Girardi
2 min de leitura

No ano em que completa 30 anos de existência, o Programa Antártico Brasileiro (Proantar), que começava a analisar a necessidade de se reestruturar, se modernizar e de reavaliar as metas, terá agora de fazer isso de qualquer maneira. Essa é a análise de alguns pesquisadores ouvidos pela reportagem que vêm realizando pesquisas na região.

 

A Estação Comandante Ferraz, destruída ontem em um incêndio, abrigava somente uma parte das pesquisas brasileiras realizadas na região, mas servia ao menos como apoio para outras e principalmente tinha um papel político importante por ser a única base brasileira no local. A avaliação dos cientistas é que é fundamental ter um espaço como esse na região e que talvez seja caso de aproveitar a oportunidade para repensar como ela deve ser feita.

"A estação não estava suprindo a demanda.

 

Poderiam pensar em fazer uma nova estação no continente, não na ilha, como era agora", opina o físico Newton La Scala Jr., da Unesp de Jaboticabal. Ele colabora com um grupo liderado pela Universidade Federal de Viçosa que analisa o solo antártico a fim de medir quanto de gás carbônico hoje aprisionado no gelo pode ser emitido com um eventual derretimento provocado pelo aquecimento global.

 

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Esse tipo de trabalho, particularmente, não depende muito da estação. Para fazer as coletas, a equipe segue de navio até o local de estudo e depois acampa por lá. Mas eventualmente os cientistas contavam com algum apoio da base. Colaboradores que estavam em navios no continente estão também voltando para o Brasil.

 

Outros estudos também são mais independes, como os de glaciologia. O pesquisador Jefferson Simões, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e líder da expedição "Deserto de Cristal" - a primeira missão brasileira a penetrar o interior do continente -, estima que algo entre 35% e 40% das pesquisas brasileiras feitas na Antártida vinham sendo realizadas na própria estação. Mas a maior parte não depende dessa logística e talvez não sejam interrompidas. "A Estação Comandante Ferraz não é o Programa Antártico Brasileiro. A perda da estação é uma catástrofe, a maior tragédia que o programa já sofreu, mas ele continua", afirma.

 

Por outro lado, pesquisas de biodiversidade de peixes e aves e de biociência em geral, medidas de ozônio e principalmente os monitoramentos meteorológicos feitos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) ao longo do ano serão prejudicados. As pesquisas feitas sob o chapéu do INCT-Antártico, coordenado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, e que avaliam, entre outras coisas, o impacto das mudanças globais, naturais e antrópicas no meio ambiente marinho antártico, também devem ser paralisadas.

 

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