Dirigentes de PT e PSB têm se esforçado para evitar que as disputas municipais contaminem a aliança nacional entre os dois partidos, mas em Fortaleza esse esforço precisa ser redobrado, diante do acirramento dos ataques entre Elmano de Freitas e Roberto Cláudio, embolados no segundo turno. Além de Fortaleza, PT e PSB se enfrentam diretamente no segundo turno em Campinas (SP) e Cuiabá (MT), mas essas disputas têm peso menor se comparadas à capital cearense, onde o governador socialista Cid Gomes se esforçou para montar já no primeiro turno uma aliança de 13 partidos, incluindo o PMDB, com o PSB do candidato Roberto Cláudio. E para o segundo turno Cláudio conseguiu ainda o apoio do DEM e do PDT, cujos candidatos tiveram somados mais de 34 por cento dos votos válidos no último dia 7. Das sete cidades que o PSB disputa o segundo turno, Fortaleza é considerada pelo partido a jóia da coroa. Já Elmano de Freitas, escolhido pela prefeita petista Luizianne Lins para sucedê-la, tem apenas quatro partidos com o PT na sua aliança, mas acredita que o eleitorado não se alinhará diretamente ao adversários depois do apoio formal de PDT e DEM à candidatura do PSB. Para o vice-presidente nacional do PT, deputado federal José Guimarães, "se uniram todos contra o PT" e este cenário de isolamento faz Freitas argumentar que sua disputa não é contra o aliado histórico, mas contra um grupo político comandado pelo governador. "Estou enfrentando o grupo político que domina o PSB do Ceará, que é dominado pela família Gomes Ferreira, que é diferente do PSB nacional", disse Freitas à Reuters, referindo-se ao governador e seu irmão, Ciro Gomes, que foi ministro do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esse argumento é desqualificado pelo governador, que atribui o apoio da maioria dos partidos ao seu candidato à gestão do PT na capital cearense, que ele classifica como "um desastre". "É um governo politiqueiro, que atua no fisiologismo da Câmara", disse o governador à Reuters durante a reunião do partido na semana passada em Brasília. LULA X EDUARDO CAMPOS Nas pesquisas, os dois candidatos estão embolados. Embora a diferença entre eles esteja dentro da margem de erro, o que significa que estão no chamado empate técnico, Datafolha e Ibope divergem sobre quem está numericamente à frente e qual a distância entre eles. Pelo Datafolha, Elmano de Freitas tem 42 por cento das intenções de votos contra 37 por cento de Roberto Cláudio. Já o Ibope coloca o candidato do PSB com 41 por cento contra 39 por cento do petista. As duas pesquisas têm margem de erro de 3 pontos percentuais. Mas a candidatura petista acredita que a ida de Lula no próximo dia 23 será um trunfo eleitoral para a última semana de campanha. "O Lula é a consolidação da nossa vitória. É o tiro de misericórdia como estamos dizendo por aqui", disse Guimarães, esbanjando otimismo. Já o PSB aposta suas fichas na ida do presidente da legenda e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, em evidente ascensão no cenário político nacional, para reforçar a campanha de Roberto Cláudio. Ele irá a Fortaleza, mas ainda não está definida a data. Apesar da disputa acaladorada, petistas e socialistas evitam analisar que consequência isso terá para a aliança nacional ou estadual entre os dois partidos. Guimarães diz que isso deve ser visto somente depois da campanha. "Isso aí depois a gente discute, primeiro vamos ganhar a eleição." O governador disse à Reuters que não vê abalo na relação entre os dois partidos em nível nacional e estadual, já que o PT integra sua gestão, e lembra que a cúpula do partido se reuniu com a presidente Dilma Rousseff em julho e deixou claro que as disputas municipais não iriam interferir na aliança com o governo. "Dissemos a ela que havia pessoas no PT querendo colocar o PSB como um adversário, mas que não somos e que o apoio ao governo estava garantido. De lá para cá isso não mudou", afirmou Cid Gomes. E diferente de Lula, Dilma evitou se envolver da disputa em Fortaleza e sequer fez gravações de apoio ao candidato petista para evitar desgastes com o aliado histórico. Mas Elmano de Freitas defende que depois do processo eleitoral o PT deve fazer uma análise sobre a aliança com os socialistas no Estado. "Temos muita clareza que o PSB é muito importante na aliança nacional, não tem divergência quanto a isso", disse. "Aqui nós temos um processo que temos maior distanciamento do PSB no Ceará e em Fortaleza, temos que fazer um balanço depois das eleições."