A presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, disse nesta terça-feira que não acredita que a paridade imediata dos preços dos combustíveis no Brasil em relação ao mercado internacional seja saudável para o país. A executiva, que participou de audiência pública no Senado, disse que o reajuste dos combustíveis é fundamental para que a estatal cumpra seu plano de investimentos de 236 bilhões de dólares nos próximos cinco anos, mas que a companhia trabalha pela "convergência de preços e não pela paridade imediata". "Não acreditamos que a paridade de preços dos combustíveis imediata seja saudável para o país. O efeito de alta de preço do combustível na economia é grande", disse ela aos senadores. A defasagem dos preços da gasolina nas refinarias brasileiras em relação ao mercado dos EUA está em 27,2 por cento, segundo cálculos feitos pelo Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Os preços do diesel estão 27,7 por cento mais baratos, segundo o instituto. A diferença ocorre porque os preços dos combustíveis no mercado norte-americano flutuam de acordo com as cotações do petróleo no mercado internacional, e no Brasil os preços se mantiveram inalterados nos últimos anos porque seguem a política do governo, controlador da Petrobras, de não repassar a volatilidade para o consumidor, evitando impactos na inflação. Recentemente, porém, o governo permitiu que a estatal aumentasse os preços do diesel nas refinarias, em 3,9 por cento e 6 por cento, nos dias 25 de junho e 16 de julho, respectivamente. A gasolina teve os seus preços reajustados apenas uma vez, em 7,83 por cento nas refinarias, em 25 de junho, mas sem repasse para o consumidor, já que houve uma compensação tributária. A defasagem nos preços dos combustíveis foi um dos fatores que afetou o resultado da Petrobras, que teve no segundo trimestre o primeiro prejuízo líquido em mais de 13 anos. A desvalorização do real, uma queda na produção e maiores custos exploratórios também pesaram no último resultado trimestral. REFINARIAS Mesmo quando todas as refinarias planejadas pela Petrobras estiverem construídas ainda vai haver pequeno deficit na oferta de combustíveis no país, afirmou a presidente da estatal aos senadores. De acordo com o Plano de Negócios da Petrobras, a demanda por combustíveis fósseis está estimada em 2020 para atingir até 3,380 milhões de barris/dia de óleo equivalente em combustíveis líquidos, na melhor das hipóteses, dependendo do crescimento do PIB no período. Graça Foster, como a presidente da estatal prefere ser chamada, disse aos senadores que, com todas as refinarias prontas, a capacidade de produção será de 3,2 milhões de barris/dia. Segundo a executiva, o consumo de derivados líquidos no Brasil segue forte e no mês de agosto as vendas de diesel foram recordes. AUTOSSUFICIÊNCIA Graça Foster disse que o Brasil continuará importando derivados, mesmo que a produção de petróleo aumente. E indicou que a autossuficiência do país, alardeada no passado, só será retomada em 2014. "A expectativa que se tem é que com o crescimento da produção de petróleo da Petrobras, dos sócios, dos terceiros... se a gente olha para a produção do Brasil a partir de 2014 volta-se a ter a autossuficiência, volumes iguais. Agora, estaremos importando derivados", afirmou ela, sem mencionar quando o país deixou de ser autossuficiente. PDVSA A refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, deverá ser a primeira nova refinaria da Petrobras a entrar em operação, em novembro de 2014. A executiva afirmou nesta terça-feira que 63 por cento das obras da unidade estão concluídas. A presidente da Petrobras afirmou também espera que a participação da estatal venezuelana PDVSA na Abreu e Lima seja acertada até novembro, quando termina o prazo para um acordo. E acrescentou que, caso em novembro não haja consenso sobre como a PDVSA assumirá a sociedade de 40 por cento no projeto, um novo prazo pode ser acordado. A Abreu e Lima originalmente custaria 2,3 bilhões de dólares e entraria em operação em 2011. O cronograma atual prevê custo total de 20,1 bilhões de dólares, nove vezes o inicial, e início das operações somente no fim de 2014. OUTROS SÓCIOS Ao ser questionada sobre futuras sociedades em refino, a presidente da Petrobras disse que um parceiro com expertise e dinheiro para a construção da refinaria Premium 2, no Ceará, seria bem-vindo. Mas a e executiva que a empresa ainda não está em busca desse possível parceiro. INVESTIMENTO Graça Foster disse que Petrobras já realizou investimentos de 38,7 bilhões de dólares, do total de 87,5 bilhões de dólares aprovados para 2012, e que chegará muito próximo do orçamento estimado ao final do ano. Ela ainda afirmou que a empresa tem que trabalhar seu endividamento para não perder o "grau de investimento". Ao divulgar seu balanço do segundo trimestre, a Petrobras informou que o endividamento total da companhia subiu 15 por cento ante 31 de dezembro de 2011, para 179,1 bilhões de reais em 30 de junho --da dívida bruta total, 56 por cento é em moeda norte-americana. Graça Foster revelou ainda que a Petrobras está implantando um programa de redução de custos operacionais que será lançado até o fim do mês. (Texto de Leila Coimbra)
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