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Resistência dos sobreviventes surpreende

Especialistas analisam fatores que mantêm haitianos vivos sob as ruínas

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A resistência dos haitianos, que até 15 dias depois do terremoto ainda conseguem sair dos escombros com vida, tem surpreendido alguns especialistas em resgates. O "milagre" mais recente - como definem os próprios socorristas - ocorreu na quarta-feira, em Porto Príncipe, quando a jovem Darlene Etienne, de 16 anos, foi retirada com vida das ruínas da Universidade St. Gerard. Casos como o de Darlene são raros. A maioria das pessoas não sobrevive a mais de três ou quatro dias sem água. Já a falta de alimentos pode ser suportada por "algumas semanas, dependendo de cada indivíduo", disse ao Estado o chefe dos serviços de saúde da Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, o sírio Tamman Aloudat. No caso de Darlene, vizinhos do câmpus disseram que ela teria ficado soterrada perto do banheiro e tido acesso a água. Socorristas franceses que a resgataram disseram que ela murmurou algo sobre uma garrafa de Coca-Cola entre os escombros.Segundo Aloudat, muitas vezes, mais importante do que comer e beber é manter a esperança, o otimismo e a força interior. "Isso é real: quem quer sobreviver não pode se entregar." A maioria dos especialistas concorda que a personalidade e as características psicológicas da vítima são fundamentais para definir quem sobrevive a uma situação extrema.O caso de Darlene é a prova disso. Ontem, ela comeu iogurte e vegetais, mostrando uma recuperação que surpreendeu os médicos. "Nós não podemos realmente explicar isso porque vai contra os fatos biológicos", disse a doutora Evelyne Lambert, que monitora a recuperação de Darlene.Quando ela foi resgatada estava fraca, desidratada, com a pressão e os batimentos cardíacos baixos. "Acho que ela não teria sobrevivido mais algumas horas", desabafou o socorrista francês Claude Fuilla, que encontrou Darlene. Oficialmente, ele já deveria ter encerrado as buscas, mas resolveu seguir a pista dada por vizinhos da universidade que diziam ouvir gemidos sob os escombros. A equipe de resgate fez um buraco para passar água e oxigênio para a adolescente e 45 minutos depois ela era retirada das ruínas. Randall Packer, professor de biologia da Universidade George Washington e especialista em balanceamento de sal e água disse que a juventude de Darlene pesou muito para sua sobrevivência. "Todos somos mais fortes nessa idade."

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