Rio descarta ajuda federal após declaração de greve

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Por PEDRO FONSECA E RODRIGO VIGA GAIER
4 min de leitura

O comando da Polícia Militar e dos Bombeiros do Rio de Janeiro afirmou que a segurança da população está garantida e que não houve aumento de violência nas primeiras horas após a paralisação anunciada por Policiais, bombeiros e agentes penitenciários do Estado. O policiamento em algumas vias da cidade do Rio pela manhã diminuiu em relação ao dia anterior, de acordo com testemunhas ouvidas pela Reuters que seguiam seu trajeto usual de casa para o trabalho. De acordo com a PM, no entanto, a adesão à greve foi restrita e a corporação está trabalhando normalmente. Em Copacabana, o bairro com a maior concentração de hotéis da cidade, e com expectativa de lotação no Carnaval este mês, cabines da Polícia Militar operavam normalmente e havia viaturas nas ruas. O movimento de pessoas também estava normal. Segundo o coronel Frederico Caldas, coordenador de comunicação da PM, um plano de contingência acertado entre o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), o governo federal e as Forças Armadas, que prevê a disponibilização de 14 mil homens do Exército e 300 da Força Nacional de Segurança a partir desta sexta, não precisará ser acionado. "Existe um plano de contingência que foi uma solicitação do governador. Havia uma previsão de emprego em caso de greve, mas não será necessário diante da atual situação de normalidade nos nossos batalhões", disse ele à Reuters. "Tivemos uma madrugada e um início de manhã muito tranquilos." "Houve um certo movimento (grevista) em algumas unidades, mais no interior do Estado, mas nossa resposta foi dura", acrescentou o coronel, citando os batalhões de Volta Redonda, no sul fluminense, e de São Cristóvão, na zona norte da capital, como os únicos com maior adesão à paralisação. "Quem cruzar os braços, quem se recusar a ir para a rua, vai ser responsabilizado por desobediência." Outras cidades do interior do Estado também receberam reforço de homens do Batalhão de Choque e do Bope para lidar com a greve, e cerca de dez policiais em greve foram detidos, segundo a PM. Em nota, o Corpo de Bombeiros disse que "todas as unidades da corporação em todo o Estado estão funcionando normalmente" e que as saídas para casos de emergências estão regulares. Apesar da garantia de normalidade por parte das autoridades do Estado, a presidente Dilma Rousseff telefonou para o governador do Rio reiterando a oferta de envio de tropas federais e está acompanhando a situação de perto, de acordo com uma fonte do Palácio do Planalto. A greve foi decidida numa votação simbólica por cerca de três mil representantes dos policiais, bombeiros e agentes penitenciários pouco antes da meia-noite de quinta-feira durante assembleia realizada na praça da Cinelândia, no centro da cidade. Os grevistas reivindicam um piso salarial de 3.500 reais mais benefícios de alimentação e transporte, além de carga horária de 40 horas semanais. "Agora a segurança do Rio é com a Força Nacional ou o Exército. A orientação nossa é que todos fiquem aquartelados", disse no sistema de som da assembleia na Cinelândia o cabo da PM Wellinton Machado, anunciando o início da greve. As policias civil e militar, os agentes penitenciários e os bombeiros reúnem um efetivo de mais de 70 mil homens no Estado do Rio. Os líderes da greve não informaram o tamanho da adesão ao movimento. GREVE NA BAHIA A greve declarada no Rio se soma a uma paralisação da Polícia Militar baiana iniciada em 31 de janeiro, com altos índices de criminalidade registrados naquele Estado nesse período, incluindo ao menos 150 homicídios. Assim como acontece na Bahia, a greve de policiais no Rio de Janeiro deve gerar temores para o setor turístico às vésperas do Carnaval, que o governo espera atrair até 800 mil turistas para o Rio. Além do tradicional desfile de Escolas de Samba, a cidade também atrai turistas para seu Carnaval de rua. Nesta sexta-feira, após participar se cerimônia em Brasília, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que tropas federais serão enviadas para garantir a segurança do Carnaval onde for necessário. "Não tenho a menor dúvida de que o Carnaval ocorrerá em absoluta normalidade na Bahia, no Rio de Janeiro e em todos os Estados brasileiros. O governo está pronto para mandar tropas que forem necessários", disse. As paralisações no Rio de Janeiro e na Bahia devem intensificar no Congresso Nacional os debates em torno da PEC 300, proposta de emenda à Constituição que tramita atualmente no Parlamento e visa estabelecer a obrigatoriedade de um piso salarial nacional para policiais militares e bombeiros. ESPERANÇA DE ACORDO Os grevistas no Rio disseram que esperam chegar a um acordo com o governo antes do início das festas. "De forma alguma queremos acabar com o Carnaval. Ainda faltam oito dias e temos a convicção que até lá resolveremos a questão com diálogo", disse nesta manhã em entrevista coletiva o sargento bombeiro Wallace Rodrigues, ao lado de outros representantes do movimento na sede da Coligação dos Policiais Civis. Antes do anúncio da greve na quinta-feira, a Assembleia Legislativa do Rio aprovou em regime de urgência um projeto de lei que prevê a antecipação de aumentos que seriam dados até 2014 à categoria, mas a medida, que levaria o piso salarial para 1.816 reais até 2014, foi considerada insuficiente pelos grevistas. "Hoje tem gente trabalhando cem horas por semana. Queremos apenas dignidade. Orientamos que a população não saia de casa nessa sexta-feira num gesto de cautela e de apoio ao movimento", disse o sargento bombeiro Paulo Nascimento na Cinelândia, ainda de madrugada. A paralisação também ameaçava colocar em risco o funcionamento das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), os batalhões da PM instalados em favelas que são a principal arma do Rio para combater o crime organizado antes da Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. A PM garantiu, no entanto, que não houve adesão à greve nas UPPs. A greve no Rio foi declarada após a prisão, na noite de quarta-feira, de um dos líderes do movimento, o cabo dos Bombeiros Benevenuto Daciolo, que foi flagrado em uma escuta telefônica autorizada pela Justiça negociando com líderes do movimento na Bahia a difusão da greve para outros Estados. Daciolo foi detido ao desembarcar no aeroporto internacional do Rio voltando de Salvador, onde foi acompanhar o movimento de policiais grevistas. A PM informou que a Justiça emitiu mais 11 mandados de prisão contra líderes do movimento grevista nesta sexta-feira. No ano passado, bombeiros do Estado também em campanha salarial invadiram o quartel central da corporação e foram presos após horas de ocupação. Ao todo cerca de 400 bombeiros foram presos, mas anistiados depois com apoio de parlamentares do Rio e federais. (Reportagem adicional de Sergio Queiroz, em Salvador)

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