Rio já tem mais casos de dengue este ano que em 2007

Já foram registrados 26.688 casos em apenas 13 semanas e o número de mortos pela doença subiu para 31

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Por Clarissa Thomé, Felipe Werneck, Pedro Dantas e de O Estado de S. Paulo
3 min de leitura

O número de pessoas contaminadas pela dengue no município do Rio nos primeiros meses de 2008 ultrapassou o registrado em todo o ano passado. O site da Secretaria Municipal de Saúde informou que 26.688 casos foram notificados em 13 semanas deste ano, ante 25.107 anotações em 2007. O número de mortos pela doença subiu nesta terça-feira, 25, para 31. Os dados do Estado serão atualizados quarta-feira, 26.   Veja Também:  Especial - A ameaça da dengue Epidemiologista diz que campanha antidengue fracassou Para Fiocruz, falta informação sobre dengue em crianças Reforço antidengue no RJ inicia ação semana que vem Cariocas terão cartão para acompanhar evolução da dengue Temporão critica 'saúde precária' da Prefeitura do Rio Para infectologista, SP corre risco de epidemia de dengue Para governo, dengue cresce no Rio por falta de agentes Dengue atinge status de epidemia no Rio   O índice de letalidade da dengue hemorrágica no município é ainda maior do que aquele divulgado (5%) pelo ministro José Gomes Temporão, na segunda-feira, 24. No Rio, quase um terço (29,4%) das pessoas que desenvolveram a dengue na forma mais grave morreram da doença este ano. Foram registrados 68 casos de dengue hemorrágica e 20 desses pacientes morreram. A Organização Mundial de Saúde considera aceitável índice de óbito até 1%.   O secretário de Sáude do município, Jacob Kligerman, disse nesta terça-feira, 25, que esse índice deve cair. "De janeiro para cá, temos 2.014 doentes internados. Quando ele é internado, o diagnóstico clínico é de dengue hemorrágica. Então esse número vai diminuir, quando for feita a divisão do número de casos de dengue hemorrágica com o número de óbitos", afirmou o secretário, em entrevista ao RJTV.   Kligerman reconheceu que "ninguém previa um volume tão grande de dengue hemorrágica" e nem "uma situação tão grave em relação a crianças." "Nos preparamos, vamos criar mais leitos de UTI. A rede, mesmo antes da crise com a dengue, precisa ser ampliada. Temos consciência disso e vamos ampliá-la", afirmou.   O governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), afirmou nesta terça-feira, 25, que o trabalho de prevenção da dengue na capital "não aconteceu" e que agora não vai "ficar chorando o leite derramado." "Isso já passou, não adianta ficar reclamando. Tudo que acontecer dentro do Estado nós também temos responsabilidade. Não adianta ficar buscando culpado neste momento. A hora é de trabalhar e resolver o problema", declarou.   Em referência direta à prefeitura, ele criticou a falta de cobertura do programa Saúde da Família na cidade. "Temos mais de 13 anos de crises consecutivas. Acho que é um trabalho de formiguinha que o município tem que fazer.Não pode ter ação de espasmo, tem que ser permanente."   Cabral disse que recomendou ao secretário da Saúde, Sérgio Côrtes, que procure o secretário municipal da Saúde de Campo Grande (MS). Apesar da epidemia do ano passado, a cidade só registrou um óbito.   Superlotação   Com média de 500 atendimentos diários de casos de dengue, o Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio, montou esquema especial para receber pacientes com suspeita de terem contraído a doença. A epidemia provocou crescimento de 70% do público que procura a emergência da unidade. A maioria é de moradores de Jacarapaguá, onde estão concentrados o maior número de focos do mosquito transmissor.   "Com o circuito interno que montamos, retiramos 300 pessoas da frente do hospital", afirmou a diretora do Lourenço Jorge, Vilma Lúcia dos Santos. Os pacientes com suspeita de dengue são reunidos num auditório com ar-condicionado, onde é medida febre e pressão arterial. De lá, vão para o laboratório testar as plaquetas. Os casos mais graves seguem para hidratação ou até mesmo internação. O "circuito" diminuiu o tempo de espera para o atendimento e nesta terça-feira, 25, levava em média duas horas.   A coordenadora da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA), em Santa Cruz, também na zona oeste, a major do Corpo de Bombeiros Ana Ciarlini, comanda operação de guerra para dividir a pequena equipe de quatro clínicos-gerais e três pediatras para atender os pacientes de rotina e as vítimas da epidemia. "No mês passado diagnosticamos 500 casos de dengue e este mês a tendência é de crescimento. Para piorar, um clínico e um pediatra entraram em licença médica porque estão com dengue", contou a major.   Com rede hospitalar precária, a zona oeste do Rio mostra que os esquemas montado por Estado e prefeitura talvez não suportem o aumento da demanda no caso do crescimento da epidemia. Na UPA de Campo Grande houve bate-boca entre pacientes e médicos. "Meu filho está com crise de asma e fui informada que não há previsão de atendimento, pois a prioridade é para quem corre risco de morte. Vou me endividar, mas vou ter que ir a um hospital particular", reclamou a dona de casa Alessandra da Silva Assis, de 30 anos, que deixou a unidade após discutir com médicos, com o filho Cauã, de um ano, no colo.

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