Rússia será Estado com um só partido, diz oposição

Partidos liberais reclamam que novas leis eleitorais só dão espaço para Putin.

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Por Richard Galphin
2 min de leitura

Políticos da oposição na Rússia alertaram que o país pode está a caminho de se tornar um Estado monopartidário. Membros de partidos de tendência liberal dizem que estão sendo pressionados a abandonar a cena política por causa de mudanças nas leis eleitorais, e que as eleições parlamentares marcadas para este domingo podem consolidar a supremacia do presidente Vladimir Putin e a seu partido, o Rússia Unida. Uma das últimas pesquisas de opinião a serem publicadas antes do pleito, realizada pelo centro independente Levada, sugere que apenas um partido deve conseguir cadeiras no Parlamento ao lado do Rússia Unida - o Partido Comunista. "Quando você não tem possibilidade de conseguir financiamento independente, acesso à imprensa independente, acesso a uma Justiça independente, então não há chances de se tornar oposição", disse à BBC Grigory Yavlinsky, líder do partido liberal Yabloko. Desde as últimas eleições, há quatro anos, foram feitas uma série de mudanças nas leis eleitorais que, segundo os partidos menores, foram elaboradas para que eles fossem prejudicados. Entre as modificações mais importantes está o aumento de 5% para 7% no mínimo de votos necessários para que um partido entre no Parlamento. Também foi proibido que os partidos formem coalizões para conseguir esse patamar mínimo. A nova legislação exige ainda que para que um partido seja oficialmente registrado ele passe a ter pelo menos 50 mil membros, em vez dos antigos dez mil. Por fim, a lei impede que candidatos independentes concorram ao Parlamento. Além das mudanças legais e do fato de o governo controlar os mais importantes veículos de comunicação da Rússia, os partidos da oposição também reclamam de serem assediados pelas autoridades. No dia 24 de novembro, vários líderes do partido Outra Rússia foram presos durante um comício. Entre eles estava o ex-campeão mundial de xadrez Garry Kasparov, que ficou detido por cinco dias. Outro partido, a União das Forças de Direita (SPS, na sigla em russo), alega que mais de um milhão de cópias de seu manifesto foram confiscadas pela polícia na Sibéria Mas simpatizantes do governo negam essas acusações, qualificando-as de "reclamações dos perdedores". "Todas as pesquisas de opinião nos últimos anos mostram que os números (sobre a popularidade dos partidos de tendência liberal) se mantiveram estáveis, entre 8% e 10%. Eles precisam se unir, mas não estão fazendo isso", disse o analista Vyacheslav Nikonov, de orientação pró-Kremlin. Segundo ele, outro grande problema enfrentado pelos partidos liberais é que eles ainda são associados à confusão no país nos anos que se seguiram à queda da União Soviética, na década de 90, e também à crise econômica de 1998. Nikonov nega que as eleições deste domingo estejam sendo manipuladas para assegurar que o Rússia Unida obtenha a maioria. "O presidente Putin assumiu o poder há oito anos, quando o país tinha um PIB de US$ 200 milhões. Hoje, o PIB russo é de US$ 1,2 trilhões", afirma. "Não tem a ver com manipulação, e, sim, com o fato de Putin ser um dos líderes mais bem-sucedidos da Rússia." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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