PUBLICIDADE

Sandro Fantinel: quem é o vereador gaúcho bolsonarista que ofendeu baianos e foi expulso do Patriota

Ligado a pautas do agronegócio, o vereador, que diz ter sido ‘mal interpretado’ tem vida política ligada às bandeiras do ex-presidente Jair Bolsonaro e já foi alvo de denúncia ao comitê de ética do município

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

O partido Patriota informou nesta quarta, 1°, a expulsão do vereador Sandro Fantinel (Patriota), de Caxias do Sul (RS), de 54 anos, que fez declarações questionando repercussão de caso de trabalho análogo à escravidão na Serra Gaúcha e ofendeu baianos, na última terça-feira, 28.

PUBLICIDADE

Em referência ao caso de mais de 200 trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão em vinícolas de Bento Gonçalves, o político aconselhou agricultores, produtores e empresários do setor agrícola a não contratarem pessoas da Bahia e as definiu como “um povo que vive na praia tocando o tambor” e “acostumado com carnaval e festa”. Ao Estadão, o parlamentar disse que foi mal interpretado pela fala e afirmou que pediu desculpas em plenário.

O partido afirmou, em nota, que comunicou a decisão ao vereador, à Justiça Eleitoral do município e à presidência da Câmara Municipal de Caxias do Sul.

“O discurso está maculado por grave desrespeito a princípios e direitos constitucionalmente assegurados, à dignidade humana, à igualdade, ao decoro, à ordem, ao trabalho, já que se referem de formal vil a seres humanos tristemente encontrados em situação degradante”, diz ofício da Comissão Executiva Nacional do partido, obtido pela reportagem.

“Essa situação torna inconciliável sua permanência nas fileiras do Patriota, partido que prima pelo respeito à leis, à vida e à equidade”, continua.

Fantinel tem vida política ligada pauta do agronegócio e às bandeiras do ex-presidente Jair Bolsonaro e já foi alvo de denúncia ao comitê de ética do município anteriormente.

Natural de Caxias do Sul, Fantinel já participou de três eleições, todas pelo Patriota, conforme consta no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A única na qual conseguiu se eleger, com 1.756 votos, foi na de 2020, como vereador. Em 2016, concorrendo ao mesmo cargo, com 1.012 votos, foi derrotado nas urnas. No ano passado, tentou se tornar deputado estadual, pelo Rio Grande do Sul, mas, com 7.115 votos, foi novamente derrotado.

Publicidade

Nas redes sociais, Fantinel destaca o apoio a Bolsonaro, bem como sua posição a favor das pautas do agronegócio. A capa do seu perfil na rede social Facebook é uma fotografia ao lado do ex-presidente.

Vereador gaúcho que fez falas xenofóbicas e viralizou na internet é apoiador do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro Foto: Facebook/Reprodu

Em uma postagem no Instagram, Fantinel diz que sua amizade com Bolsonaro teve início em 2017, quando, segundo o vereador, o “capitão era chamado de maluco nos corredores do Congresso Nacional”. “Mas eu não vi um maluco, eu vi um homem preocupado com o futuro da nossa nação!”, escreveu na legenda.

Mais recentemente, em postagem também no Instagram, o vereador participa de manifestação antidemocrática contra o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Estamos reunidos em frente ao Exército de Caxias do Sul clamando pelo futuro do Brasil”, escreveu na legenda.

Bandeiras

Durante o mandato como vereador, Fantinel levantou bandeiras caras a Bolsonaro. Entre elas, o tratamento precoce contra covid-19, que não tem embasamento científico. Em maio de 2021, em sessão ordinária, o político chegou a culpar profissionais de saúde que não prescreviam os medicamentos sem eficácia pelas mortes pela covid, conforme consta no site da Câmara Municipal de Caxias do Sul. “São esses os verdadeiros culpados das UTIs estarem cheias. As pessoas que tiveram o tratamento preventivo prescrito não ficaram internadas no hospital.”

PUBLICIDADE

Em novembro do ano passado, após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Fantinel apoiou moção aprovada na Câmara Municipal de protesto contra atos do ministro Alexandre de Moraes, que se tornou bode expiatório de bolsonaristas, durante o pleito.

Recentemente, após deflagrada emergência de saúde pública na Terra Indígena Yanomami, Fantinel, em sessão ordinária, questionou os atos do governo federal. “Vemos um governo que assumiu há 30 dias e fala única e exclusivamente dos indígenas da Amazônia. E aqueles que vivem aqui no Sul?”, afirmou, conforme consta no site da Câmara Municipal da cidade. O político também disse que os povos originários não haviam recebido atenção devida nos outros mandatos do petista, bem como da ex-presidente Dilma Rousseff.

Comissão de ética

As falas polêmicas já lhe renderam problemas. Em 2021, o vereador Juliano Valim (PSD) apresentou denúncia contra ele à Comissão de Ética da Câmara Municipal. “Decidi ingressar com processo na Comissão de Ética, referente à fala do vereador Fantinel, na manifestação ocorrida em frente à Prefeitura, onde o mesmo insinuou que 16 vereadores coagiram o prefeito, para implantar a indicação protocolada por mim, referente ao passaporte de vacinação”, afirmou Valim.

Publicidade

Conforme o portal da Câmara Municipal, Fantinel havia dito que: “(…) vereadores da Casa Legislativa, que não vou fazer nome contra colegas, vocês podem se informar e saber quem é vereador da Casa Legislativa, guiados por um, levaram uma indicação ao prefeito, e foram 16, não foram três, foram 16, 16 vereadores chegaram ao prefeito e disseram: nós queremos que o senhor implante isso aqui, É UMA FORMA DE COAGIR, porque o Prefeito precisa dos vereadores para aprovar as Leis que ele precisa para nossa cidade (...).”

A denúncia foi, posteriormente, arquivada.

Consciência tranquila

Sobre a expulsão do partido, o vereador afirmou ao Estadão que o Patriota se “voltou contra” ele, e que a legenda dificilmente vai encontrar um substituto à sua altura. O político disse ainda que está com a consciência tranquila e que foi graças à sua militância que a sigla cresceu na cidade de Caxias e no Estado do Rio Grande do Sul. “Se eles acham melhor assim (me expulsarem), eles que busquem gente melhor que eu, que eu sei que vai ser bem difícil”, disse.

O parlamentar disse ainda que “acredita na Justiça” e que, apesar de ter errado, não cometeu nenhum delito grave, como assassinar, roubar ou estuprar alguém. “O que é certo é certo e o que é errado é errado. Eu cometi um erro, sim. Não matei ninguém, não roubei, não estuprei, não cometi nenhum delito desse tipo”, afirmou. “Falei palavras infelizes, mas pedi perdão, pedi desculpas. Não vai mais acontecer. Mas o que eu ganho de presente é a expulsão do partido.”

Apesar da saída do Patriota, Sandro Fantinel diz que não deve perder seu mandato na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul por não ter cometido “infidelidade partidária”. Ele afirmou ainda que poderá se filiar aos partidos PL - do ex-presidente Jair Bolsonaro, a quem Fantinel demonstra apoio publicamente - ou Podemos. “São os dois mais próximos que eu estaria interessado”.

Apesar de admitir que suas declarações foram um erro, Fantinel diz estar com a “consciência tranquila”. “(O Patriota) Foi um partido que eu fiz tudo por ele, mas ele não merece ter gente que nem eu. Logo, logo teremos uma nova sigla e uma nova caminhada”, completou.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.