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Sarkozy dá a deixa

Não é só o Brasil que vai de relações bilaterais com o novo presidente francês, Nicolas Sarkozy. Entre uma lua-de-mel (casamento com a renomável Carla Bruni) e uma lua de fel (desentendimento com o empombado povo de França), Sarkozy tem mais de 299 idéias

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Por Da BBC Brasil

Não é só o Brasil que vai de relações bilaterais com o novo presidente francês, Nicolas Sarkozy. Entre uma lua-de-mel (casamento com a renomável Carla Bruni) e uma lua de fel (desentendimento com o empombado povo de França), Sarkozy tem mais de 299 idéias para mudar a face e o funcionamento do invocado país que preside. Na verdade, há umas semanas, ele disse ter 300 idéias, para ser preciso como um contador de Rouen. No momento, está em plena operação com mil homens na Guiana para tentar inibir (para sermos eufemísticos) a imigração clandestina de brasileiros. Brasileiro imigrando para a Guiana. Tsk, tsk, como dizem as pessoas nas histórias em quadrinhos. Imigrar para Honduras ou Nigéria eu entendo, agora Guiana... Francamente, brasileiros, vocês não se cansam de surpreender a mim e aos outros 300 mil que imigraram para o Reino Unido. Nicolas Sarkozy ainda teve a infeliz idéia, deve ter sido a 301ª., de cumprimentar a ação da Marinha francesa que deixou baleados, em novembro do ano passado, quatro pescadores ilegais brasileiros. Nossa ilegalidade não conhece fronteiras, para cunhar uma frase. O Consulado-Geral do Brasil, na ocasião, expressou-se lamentando a ocorrência, o que é muito comum entre nossos consulados. O baixinho gaulês continua falando grosso e mandando chumbo idem. Sarkozy anunciou uma megaoperação antiimigratória lá pela mesma fronteira Brasil-Guiana. Nosso Consulado-Geral, voltou ao contra-ataque em sua melhor e mais virulenta forma: disse temer a ocorrência de "violações aos direitos humanos" com a nova ofensiva. Apesar dos fatos, e sua realidade superficial como uma dama de nossa melhor sociedade batendo bola no Maracanã, nós continuamos firmes na intenção de fazer negócios com a França de Nicolas e Carla Sarkozy. Caças, submarinos nucleares, vinhos de apelação controlada, tudo isso consta de nossa agenda de compras no vasto mercadinho que é o país aqui ao lado de mim, no outro lado do Canal da Mancha. Tudo isso me traz à mente a Guerra da Lagosta, que disputamos com a França de De Gaulle. Quem ganhou afinal? Os franceses? Uai, então seria a primeira vitória, ou mesmo empate, marcial em toda a história do país um dia nosso amigo, outro dia... quem sabe? Sarkozy e os britânicos Aqui em cima, deste lado do Atlântico, ainda não saiu um pau entre britânicos e franceses. Também não se chegou à rasgação de seda ou tweed. Talvez devido à sua baixa estatura, e seus olhos cruéis (já repararam? Pois prestem atenção), para não falar no empolgante e fotogênico romance vivido com a ex-modelo Carla Bruni, que boa parte de nossa imprensa, aliás, acusou de ser filha de pai brasileiro, Nicolas Sarkozy não tem sido levado muito a sério. Os britânicos ficam na moita, só urubuservando, na expectativa de que venha de lá a primeira besteira. Até agora, além de, nessa ordem, divórcio da primeira quase-quase primeira-dama, Cécilia, e subseqüente casamento, Nicolas só pegou espaço na imprensa com as tais das 300 idéias que anunciou ter em mente a fim de mudar a face da França. Nada de plásticas estetizantes, caros messiês. Foram idéias muito divulgadas e que, no momento, se me escapam à memória e a do Google também. Por falar em idéias, Einstein disse que só tivera uma na vida. Isso aí, madames. Fato é que, em sua eterna falta de assunto, os jornais locais procuraram fazer suas enquetes com figuras de projeção fazendo de conta estarem à cata de idéias para mudar radicalmente o Reino Unido. Para melhor, é claro. Embora o contrário não fosse a pior idéia do mundo. Um vôo rasante Abro as asas sobre os recortes que taquei em minha sacola preta, sempre em busca de assunto (eu também já fui jornalista), e, numa varejada, cato e traduzo algumas sugestões britânicas. O Bob Geldof, aquele que se diz músico e ativista pró-Bono, em seu mais amplo sentido, sugere que se pegue um submarino (talvez desses que a gente quer e precisa demais de comprar e ter), passe uma corda em torno da ilhona e a arrastem no mínimo uns 500 km para o sul. Desta forma, segundo o cavalheiro e cavaleiro do reino, viveríamos todos num paraíso tropical. Algo assim feito a Nigéria ou a Guiana, certo, sir Bob? O filósofo Roger Scruton, escrutinou a pergunta (e mais jogo de palavra com o nome dele não faço) e sugeriu que, para cada lei imposta ao povo britânico, fosse retirada outro do livro de estatutos. O pensador, homem de direita, quer menos governo. Acha, ou filosofa, que o povo, se deixado em paz, resolve direitinho seus problemas. Sei. O historiador das multidões, David Starkey, que não sai da televisão, sugeriu remover dos estatutos do Reino Unido não lei mas sim gente. Todo indivíduo que faturasse menos de 50 mil dólares por ano, não pagaria imposto de renda. Segundo ele, o governo castiga as gentes que deveria estar liberando. David Starkey deverá se candidatar ao Parlamento, segundo a minha má-língua. Grayson Perry, ceramista, foi conciso: proibição para a goma de mascar, que, no seu entender, deixa as pessoas com cara idiota e emporcalha as ruas. Sarfraz Mansoor, escritor e radialista, não teve por onde. Gostaria que tornassem mais difícil a compra e o consumo de álcool em público. Nada sobre a venda e o uso de drogas. E por aí afora. Mais afora do que por aí. Conclusão O bom filho à casa torna. Perdão, leitores. Eu fiz o possível para tirar uma conclusão razoável dessa tolice toda. Tentei, mas não consegui. Só me resta repetir: o bom filho à casa torna. Ou então, se preferirem: depois da tempestade vem sempre a bonança. Chegar a conclusões é mais difícil do que se pensa. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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