Em um pequeno complexo penitenciário nas redondezas de Riad, o governo da Arábia Saudita está explorando novas formas de combater o extremismo religioso. A prisão, com paredes altas e arame farpado, é administrada pelo Ministério do Interior, mas as autoridades preferem chamá-la de "centro de reabilitação", enquanto se referem aos prisioneiros como "beneficiários". Dentro do presídio, eles desfrutam de uma gama de instalações e atividades recreativas, como piscina, videogame e mesas de ping-pong. Em troca pela mordomia, os prisioneiros têm de participar de aulas de educação religiosa onde sábios islâmicos desafiam suas visões do Islã. Arte A idéia por trás da iniciativa, inaugurada há 18 meses, é combater a ideologia da Al-Qaeda ao tentar convencer militantes islâmicos que sua visão sobre o Islã é distorcida. O Ministério do Interior fiscaliza a nova estrutura e criou a Unidade de Segurança Ideológica (ISU, na sigla em inglês), para coordenar os esforços da iniciativa. "Não se pode derrotar uma ideologia pela força. Há de se lutar contra certas idéias com outras idéias", disse Abdul-Rahman Hadlaq, diretor do ISU. Mas o centro vai além do debate de idéias ao encorajar os detentos a expressar seu "lado mais suave" por meio de aulas de arte, em que encontram novas formas de expressão. As autoridades sauditas enfatizam que todos os condenados terão chance à reabilitação independentemente da natureza do crime que cometeram. Entre os prisioneiros está Ahmed Shayea, que lançou um caminhão-bomba contra a embaixada jordaniana em Bagdá em agosto de 2003, matando nove pessoas e ferido outras 60. O ataque foi o primeiro grande atentando praticado por insurgentes e teve o objetivo de anunciar a chegada da Al-Qaeda ao Iraque. Shayea sobreviveu à explosão e foi levado para o centro de reabilitação saudita após ser repatriado do Iraque por forças americanas. "Eu hoje sou um inimigo da Al-Qaeda. Eu acredito que Deus tenha me salvado para passar essa mensagem", diz Ahmed Shayea. Perdão As famílias também estão fortemente envolvidas na iniciativa, sendo estimuladas a fazer visitas regulares ao centro de reabilitação. Os prisioneiros também têm permissão para ir para casa ocasionalmente sem escolta, já que contam com a confiança das autoridades carcerárias de que retornarão horas mais tarde. A prisão tem se mostrado particularmente relevante para sauditas que são repatriados após passarem um tempo na prisão de Guantánamo, em Cuba. "A experiência me preparou para voltar à vida normal", diz Juma Muhammad Dossari, que passou seis anos em Guantánamo. Até agora não foi registrado nenhum caso de reincidência. Ao deixarem a prisão, os ex-detentos contam com a ajuda do governo, que não raramente arca com despesas com casamentos, reformas e decoração de suas casas. A prática pode ser alarmante para os ocidentais, mas muitos sauditas concordam com a iniciativa. "Nós somos parte de uma sociedade patriarcal. Essas pessoas são filhos da terra. E quando um filho comete um erro, o pai o perdoa, e o rei os perdoou", diz Khalid al-Maeena, editor do canal árabe inglês Arab News. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.