Secretário do Rio diz que SP 'esconde' seus crimes

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Por MARCELO AULER E BRUNO PAES MANSO
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O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, colocou em dúvida ontem os dados criminais divulgados pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP). ?No meu entendimento, São Paulo não divulga, não é transparente com seus dados criminais. Porque, se divulgasse, as empresas iam embora de lá como foram embora daqui?, disse Beltrame, durante um debate no 24.º Encontro Nacional de Procuradores da República, encerrado ontem na capital fluminense. A polêmica aberta pelo secretário do Rio ocorreu enquanto ele respondia a críticas feitas durante o seminário pela socióloga Julita Lemgruber, ex-ouvidora de Polícia do Rio, que durante sua apresentação não poupou críticas à política de enfrentamento da Secretaria de Segurança. Julita também elogiou os resultados da polícia paulista. No mesmo dia, em São Paulo, eram divulgados os dados do terceiro trimestre deste ano, que registram uma diminuição nos índices de homicídios dolosos pelo 25º trimestre consecutivo. Conforme os números, desde 1999 os homicídios caíram 63% no Estado e 72% na capital. Pela primeira vez desde que as estatísticas são feitas, São Paulo deve encerrar o ano com menos assassinatos do que o Rio, cerca de 5 mil, mesmo tendo o dobro da população. A Secretaria de Segurança disse ontem que não iria responder às críticas de Beltrame. Mas o coordenador de Análise e Planejamento da SSP, Túlio Kahn, durante a apresentação dos números, já havia feito comparações entre as políticas de segurança nos dois Estados. Kahn afirmou que o governo paulista não espera que a solução da criminalidade venha com uma ?tropa de elite?, mas com uma polícia que se aproxime da população. ?Apostamos no policiamento comunitário, que poderíamos chamar de tropa do povo?, afirmou. Ele também lembrou que as políticas de policiamento ostensivo em comunidades com elevados níveis de violência - as Operações Saturação -, são feitas para cumprimento de mandados de prisão emitidos pela Justiça. ?Não são invasões indiscriminadas. Fazemos prisões pontuais e evitamos mortes. Além disso, juntamente com o policiamento ostensivo, o governo de São Paulo passou a investir em políticas públicas para esses lugares, o que chamamos de Virada Social.? Números Nos números divulgados ontem por São Paulo, além da queda de homicídios, a permanência dos casos de roubo em níveis elevados, na casa dos 55.493 no trimestre, 4,9% a mais do que o mesmo período do ano anterior, foi o dado que mais chamou a atenção. ?Como os roubos atingem a classe média e continuam altos, a expressiva queda nos homicídios, localizados nos bairros mais pobres, ainda não aumentou a sensação de segurança.? No Rio de Janeiro, Beltrame também analisou as diferenças entre a segurança nos dois Estados. A configuração geográfica seria uma delas. O segundo ponto citado foi o ?descaso a que a segurança foi entregue, que permitiu que a estrutura criminosa se instalasse no seio da sociedade e não na periferia?. Ao comentar a terceira diferença, ele lembrou que, enquanto paulistas assistem a ?uma luta entre polícia e bandido?, no Rio existem três facções criminosas, a polícia, e a ?facção azul, que são as milícias que se instalaram na cidade?. Beltrame afirmou que a solução para o Rio passa pela ocupação dos territórios hoje dominados pelo tráfico. ?Precisamos recuperar isso, diminuir a gordura criminosa que ficou na cidade. Isso é traumático, complicado. O problema é muito mais complexo, muito mais demorado e muito mais sério do que ficarmos conversando fiado na televisão, para os holofotes. Temos de buscar as armas que estão com traficantes, a não ser que alguém os convença a entregá-las?, disse. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.