Dona Ilda Simioni, de 89 anos, pelo menos há dez deles dependendo de uma cadeira de rodas para se locomover, olha incrédula para o barranco que desmoronou logo ao lado do asilo onde mora em Garcia, bairro afastado do centro de Blumenau, em Santa Catarina. "Mas é uma calamidade", diz, com as mãos no rosto, ao ser resgatada por militares do 23º Batalhão de Infantaria da cidade. Desde domingo de manhã, quando a encosta desceu em poucos e rápidos segundos e fechou totalmente as ruas da comunidade, ela e outras 11 senhoras do Asilo Santa Ana estavam sem comunicação, sem eletricidade e sem água potável. "Nunca vi algo assim tão devastador." A ajuda em Garcia chegou apenas ontem, por volta das 10h30, quando os primeiros caminhões conseguiram passar pela lama que chegava à altura do joelho. Enquanto Ilda era colocada lentamente em um jipe camuflado do Exército, outra senhora, dona Erma, perguntava para os militares se iria morrer. Pelo menos três irmãs que administram o asilo, duas delas polonesas, choravam e ligavam pelo celular para parentes na Polônia para dar a notícia de que o resgate havia finalmente chegado. Dona Maria, outra senhora residente no local, tentava acalmar as irmãs. "Vai dar tudo certo, vai dar tudo certo", disse, antes de cantarolar baixinho uma canção que parecia ser Noite Feliz. E cenas como essa continuam a acontecer na região, invariavelmente seguidas de lágrimas, de alívio e também de medo. Pelo menos 3 mil pessoas continuam isoladas em Blumenau, que decretou estado de calamidade pública, sendo que 60% de toda população está sem água e 35% sem energia elétrica. A maioria das ruas está tomada por lama. Até a noite de ontem, havia no município 4.842 pessoas cadastrados em 61 abrigos diferentes. "Mesmo sendo resgatados, não sabemos o que fazer daqui para frente", explica a irmã Daiene Fontenele, resumindo o sentimento geral. "Vamos para o abrigo, sim. Mas e depois? Quem vai cuidar desses velhinhos? Onde vamos comer, dormir, viver?"