Sementes mais puras, sem a máquina ideal

Sacas de sementes para pasto devem ter 60% de pureza. Mas maquinário é calibrado para receber só 40% de pureza

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Em plena época de reforma de pastagens, que vai até fevereiro, pecuaristas, agrônomos e empresas de sementes enfrentam um problema no campo, relacionado à Instrução Normativa 30, de 21/5/2008, do Ministério da Agricultura. A IN 30 elevou a exigência do teor de pureza da saca de sementes para pasto (braquiárias) de 40% para 60%. A mudança, que significaria economia na hora de formar o pasto, não está tendo o efeito desejado porque não há, nas fazendas, maquinário adequado para receber sacas com maior teor de pureza de sementes - com menos palha e terra."Há dois problemas. O primeiro é a falta de semeadoras reguladas para trabalhar com uma menor quantidade de sementes. O segundo tem a ver com uma questão cultural do pecuarista, que acha que se jogar menos semente do que está acostumado, o pasto não ficará bem formado", diz o agrônomo e consultor Rodolfo Wartto Cyrineu, de Itapetininga (SP).

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Habituado a reformar, todo ano, 300 hectares de pasto, o pecuarista Luiz Carlos Marino diz que não está acostumado a trabalhar com menos que 10 quilos de sementes/hectare. "A máquina é calibrada para semear 15 quilos/hectare; menos que isso é inviável. Mesmo se tivesse uma máquina apropriada, há um risco grande de falhas se eu jogar só 10 quilos de sementes por hectare", diz ele, que cria 700 cabeças de gado nelore PO em Avaré (SP).

 

Mudanças. Para entender a mudança, até o ciclo 2008/2009 uma saca de sementes de braquiária tinha, no mínimo, 40% de pureza. Portanto, em 20 quilos apenas 8 quilos eram de semente - 12 quilos eram de terra, palha e outras impurezas. Com a IN 30, que exige pelo menos 60% de pureza, uma saca passa a conter 12 quilos de semente e sobram 8 quilos de material inerte. Pelos cálculos do agrônomo, o pecuarista está habituado a semear 10 a 15 quilos de semente/hectare; com a saca mais pura, são necessários apenas de 7 a 10 quilos/hectare. "Há máquinas para semear 15 quilos, 10 quilos no mínimo/hectare. Para menos que isso, não há máquina." A lei veio para melhorar, mas ironicamente o produtor está insatisfeito, segundo Cyrineu. Mais irônico ainda é que, para ajustar a quantidade de sementes à regulagem da máquina, produtores estão misturando a semente com material inerte e com adubo. "É o paliativo adotado por muitos produtores. Fazer o enchimento da semeadora com areia, palha de arroz e adubo", conta o diretor-comercial da empresa de sementes JC Maschietto, de Penápolis (SP), Murilo Nahas Batista. "O problema do adubo é que ele tem alta densidade e a semente, baixa densidade. A tendência é, portanto, que o adubo desça e a semente suba", diz Cyrineu. Outro risco, segundo o agrônomo, é que adubos salinos, como cloreto de potássio e nitrato de amônio, queimem a semente.Concorrência. Batista diz que, do lado das empresas de sementes, o problema da IN 30 tem sido a concorrência desleal. "Uma saca de semente de melhor qualidade custa mais caro, mas a compensação é que se usam menos sementes por hectare. O problema são os produtores que não têm a máquina apropriada para semear a quantidade menor de sementes e buscam uma semente mais barata no mercado, que normalmente não respeita o nível de pureza da IN 30", afirma. "O produtor economiza R$ 1 por quilo de semente, mas em vez de semear 12 quilos por hectare, semeia 18 quilos por hectare - sendo que nestes 18 quilos há mais palha e terra."Batista calcula que o País tenha cerca de 600 empresas produtoras de sementes e defende uma maior fiscalização por parte do ministério. Segundo ele, há empresas que vendem a saca com valor cultural de 36%. "Embora na teoria esse índice seja aceito, na prática é ilegal, pois a empresa quer compensar na germinação a falta de pureza." O valor cultural (VC), além da espécie da forrageira, é o parâmetro que define a quantidade de sementes por hectare e é calculado com base nos índices de pureza e germinação. "Pela lei, a germinação pode ser de 60%, mas na prática todos adotam um índice de 80% de germinação. Portanto, o índice mínimo permitido teria que ser de 48%", explica Batista.MudançaIN 30 definiu maior grau de pureza de sementes:60%É o nível mínimo de pureza que deve ter uma saca de sementes de pastagens (braquiárias)40% É o nível mínimo de pureza para sacas de sementes de panicuns

 

 

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