Setor público tem pior primário para agosto em 10 anos

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Por TIAGO PARIZ

O setor público brasileiro registrou em agosto o pior superávit primário para esses meses em 10 anos, que deve jogar uma pá de cal nas chances de o governo cumprir a meta cheia estipulada para este ano, de 139,8 bilhões de dólares, o equivalente a cerca de 3,1 por cento do Produto Interno Bruto (PIB). No mês passado, a economia para feita pelo setor público para pagamento de juros ficou em 2,997 bilhões de reais, abaixo do esperado pelo mercado, de 5,5 bilhões de reais, segundo pesquisa Reuters. O país acumula no ano 74,225 bilhões de reais, que equivalem, num fluxo de 12 meses, a 2,46 por cento PIB, o menor valor registrado no ano. Com isso, faltam quase 66 bilhões de reais para que o objetivo cheio seja alcançado neste ano e que terão de ser cumpridos nos próximo quatro meses. O chefe do departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, admitiu que, por conta da desaceleração econômica, este ano está mais difícil para gerar resultados primários mais robustos. Mas defendeu que a expectativa é alcançar a meta cheia, sem a necessidade de descontar os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). "Vai haver uma retomada dos resultados primários de modo que vai chegar em dezembro a 3,1 por cento do PIB, ou 139,8 bilhões de reais", afirmou Maciel em entrevista coletiva. "O cenário internacional teve impactos na economia doméstica e essa moderação na atividade se reflete nas receitas, assim como as medidas anticíclicas de desoneração e as de aumento de investimento", disse, ressaltando que a aceleração da economia deve gerar maiores receitas ao governo. A equipe econômica tem defendido que a atividade começará a se recuperar neste segundo semestre mas, mesmo assim, a perspectiva é de que o PIB cresça, no máximo, 2 por cento neste ano. Diante do cenário mais complicado, o governo tem recorrido aos dividendo das empresas estatais para ampliar os resultados primários. Neste ano, foram pagos 16,125 bilhões de reais em dividendos, valor 26,7 por cento superior ao mesmo período de 2011. META CHEIA? Para os analistas consultados pela Reuters, o governo não conseguirá cumprir o objetivo cheio neste ano. O especialista em finanças públicas Raul Veloso afirmou que, com o desempenho fiscal do ano, o superávit primário ficará abaixo do esperado, mas sustentou que o governo vai usar todos os instrumentos para se aproximar o valor final. "O resultado vai ficar abaixo da meta, mas o governo vai inventar alguma coisa. Eles já aumentaram uma vez valor dos dividendos, pode aumentar mais 5 bilhões (de reais)", afirmou ele, para quem o resultado final deste ano ficará entre 2,46 e 3,1 por cento. O economista-chefe do HSBC para América Latina, André Loes, prevê que o superávit primário fique em 2,9 por cento do PIB neste ano. Ele afirmou que o mercado financeiro não vai ficar preocupado com o resultado se ocorrer por conta dos estímulos dados à expansão dos investimentos. "Se o relaxamento estiver conectado a desonerações fiscais, que faz parte de um pacote mais amplo para reduzir o custo do investimento no Brasil, não acho que os mercados vão ficar preocupados", afirmou Loes. Apesar do discurso oficial ser ainda que a meta será cumprida integralmente, dentro do governo já se trabalha com a possibilidade de que será necessário descontar os investimentos do PAC. AGOSTO No resultado do mês passado, os governos regionais (Estados e municípios) contribuíram com primário de 1,483 bilhão de reais, enquanto que as empresas estatais tiveram resultado positivo de 341 milhões de reais. O BC informou ainda que o déficit nominal --diferença entre receitas e despesas, incluindo pagamento de juros-- ficou em 16,121 bilhões de reais no mês passado, e em 73,355 bilhões de reais entre janeiro e agosto. A dívida pública representou 35,1 por cento do PIB. A previsão do BC é que a dívida feche o ano em 34,8 por cento e permaneça em 35,1 por cento do PIB em setembro. Para déficit nominal, a perspectiva é fechar o ano em 1,6 por cento, contra 1,4 por cento na estimativa anterior. A apropriação de juros no mês passado somou 19,118 bilhões de reais, chegando a 147,580 bilhões de reais no acumulado do ano. (Reportagem adicional de Luciana Otoni e Alonso Soto)

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