Entre os meus hábitos mais bizarros está o de acompanhar, rodada por rodada, as séries B e C do campeonato brasileiro. Torço fervorosamente contra todos os times sem torcida, movidos a grana de prefeituras ou de empresários exportadores de mão de obra, que tiram o lugar de times populares do Norte e do Nordeste. Neste momento, por exemplo, estou abalado pel o fato de o Guaratinguetá estar escapando de um rebaixamento que parecia certo, empurrando o ABC de Natal de volta à série C. Juro.Distraído com as divisões inferiores, contudo, não percebi que algo muito mais grave acontecia nas eliminatórias para a Copa de 2014. Na chave sul-americana, faltando seis rodadas, o Paraguai continua na lanterna, praticamente condenado a não vir para o Brasil. Puede, Arnaldo? Depois de participar de várias Copas consecutivas, os paraguaios vão ficar de fora justo agora, quando certamente seriam adotados como o visitante de estimação da torcida brasileira.Mas o pior é que Chile e Uruguai também perigam não se classificar. E por que eu estou triste? Porque quanto mais vizinhos, melhor será a festa.Anote aí: não vai haver caos aéreo na Copa. Você, eu e todos os outros brasileiros vão ficar um mês sem programar viagem nenhuma, nem de negócios. Os preços altos afastarão todos os gringos do Hemisfério Norte que não vierem especificamente para a Copa. E virão poucos, porque há poucos ingressos, que estarão na mão dos patrocinadores.Todo jogo será um pesadelo logístico - pense em um show da Madonna a cada partida - mas os aeroportos só estarão conturbados na hora de cinco mil italianos se deslocarem de Fortaleza para Curitiba. A verdadeira invasão vai ser rodoviária, protagonizada por hermanos sem ingresso, que virão pela farra e pela possibilidade de quem sabe descolar uma entrada por vias tortas. É uma pena que as autoridades não entendam algo que eu sempre digo e que só a agência de publicidade de uma marca de cerveja parece ter entendido: durante a Copa, qualquer lugar do Brasil é uma festa. E durante a Copa do Brasil, todo lugar será especial. Até Guaratinguetá. Ainda dá tempo, Paraguai!
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