O uso de softwares educacionais pode incentivar os alunos a gostar de matemática e até a se decidirem, no futuro, pelo ingresso em um curso na área de exatas. Essa é o opinião de Seiji Isotani, que há dez anos trabalha no desenvolvimento de softwares para o ensino da disciplina. Leia a entrevista a seguir:
O que o motivou?
Comecei a trabalhar nisso durante minha iniciação científica. Mas tudo teve início quando, ainda criança, tive dificuldades de aprendizagem por causa de problemas de visão e audição. Após essa fase problemática, comecei a me destacar, em particular na área de matemática. Como também tinha uma grande paixão pelos computadores, decidi estudar computação e aplicar esses conhecimentos para facilitar o ensino de matemática.
Os rankings mostram que os alunos brasileiros estão mal em matemática. O uso de softwares pode melhorar isso?
Sim. Vou destacar três benefícios. O primeiro é a visualização. Na maioria das vezes, os conceitos matemáticos são abstratos e os alunos sentem dificuldade em compreendê-los. Com os softwares, é possível trabalhar o conceito utilizando figuras. O outro benefício é a interação: ao modificar os valores de a, b ou c, por exemplo, o software redesenha a figura e o aluno consegue verificar qual o impacto dessas mudanças de forma imediata. Finalmente, é possível fazer o acompanhamento personalizado: o software corrige os exercícios e oferece dicas para que o aluno possa sanar suas dificuldades.
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Para quais níveis de ensino os softwares são indicados?
Alguns são mais indicados para o nível médio, outros para o fundamental, mas todos foram desenvolvidos para auxiliar o professor e facilitar a aprendizagem do aluno. Mas é preciso ter cuidado ao utilizá-lo, pois é apenas uma ferramenta. É necessário capacitar o professor para que ele possa tirar o máximo de proveito dela. Há quem seja contra o uso, pois teme que prejudicará a aprendizagem e o convívio social dos alunos. Acredito que não. Os computadores e a internet estão transformando o modo como interagimos. É preciso entender e preparar nossos alunos para o futuro.
É um trabalho conjunto?
Um software nunca vai substituir o professor, ele apenas lhe dá condições e informações para que ele desenvolva seu trabalho de forma eficaz. A questão é que os alunos mudaram. Não querem mais ficar sentados escutando o professor de forma passiva. Eles são mais ativos, querem ver, mexer, manipular, construir o seu conhecimento. E isso é um grande choque de gerações.
O custo financeiro para difusão nas escolas do País é alto?
O software poderia ser facilmente difundido a um custo razoavelmente baixo e com retorno muito positivo. O que falta é incentivos para o desenvolvimento de softwares e tecnologias que se integrem ao currículo escolar. Não adianta utilizar o software em uma aula ou outra, pois os benefícios serão pontuais. É preciso trabalhar com softwares de maneira continuada e explorar a capacidade deles de personalizar a aprendizagem. O sistema "vê" os problemas diariamente e não ao fim do semestre, quando o aluno já não tem mais possibilidade de se recuperar.
Uma personalização que o professor não consegue fazer?
Sim. Se tivéssemos um bom sistema educacional, no qual os professores fossem bem pagos, as salas de aulas não fossem lotadas e os equipamentos fossem adequados, um software inteligente traria benefícios sutis, personalizando o ensino e orientando o aluno quando necessário, como nas tarefas de casa. Na situação atual do Brasil, no entanto, o software traz imensos benefícios ao professor. Ele diminui o tempo necessário para a correção de trabalhos e provas e, além disso, adequa, automaticamente, os exercícios para o nível de aprendizagem em que se encontra o aluno.
Como é o uso desse tipo de software em outros países?
Em muitos países que visitei, o uso de softwares está se tornando uma prática comum. No Japão, Coreia, Canadá, China e EUA diversas escolas usam softwares em todas as matérias, integrados com o currículo da escola. E são as melhores escolas desses países.
QUEM É
Formado em Ciência da Computação, com doutorado em Engenharia da Informação na Osaka University, é docente do Departamento de Sistemas de Computação do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP.
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