Super Hillary e os super-delegados

Para Hillary Clinton, era matar ou morrer na terça-feira, e ela matou.

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Por Lucas Mendes
2 min de leitura

Vamos tirar o chapéu e dar a mão à palmatória. Era matar ou morrer e ela matou. Duas vitórias mudaram outra vez o rumo desta campanha. Vestida de vermelho, cor republicana, e um sorriso exuberante, ela colheu a vitória de Ohio bem antes de saber que iria ganhar três Estados, entre eles o prêmio maior, o Texas. Lá, TODAS as pesquisas colocavam Obama na frente por pelo menos dois pontos. Em Ohio ela estava com cinco pontos na liderança. Ganhou por dez num Estado essencial. Nenhum candidato nos últimos cem anos chegou à Presidência sem ganhar Ohio. Com mais dinheiro, organização e favorito nas pesquisas, como Obama perdeu? Duas possibilidades. A primeira foi o comercial de Hillary com um hipotético telefonema para a Casa Branca às 3h da manhã sobre uma ameaça imediata aos Estados Unidos. A imagem inicial mostrava uma criança americana dormindo tranqüila e cortava para a Casa Branca. Quem era o candidato mais preparado para tomar a decisão certa sem vacilar? Quem é o candidato mais preparado para ser o comandante em chefe do país, era a pergunta. O senador contra-atacou com uma versão quase idêntica e o argumento de que ele tinha tomado a decisão certa quando foi contra a guerra do Iraque, mas o ataque dela foi mais contundente. Tropeço no Nafta O outro tropeço do senador foi na questão do acordo comercial Nafta. Um memorando tinha sido divulgado pela televisão canadense sobre o encontro de um assessor econômico de Obama com o cônsul do Canadá em Chicago. Nele o assessor teria dito que os ataques do senador ao acordo eram apenas retórica de campanha e não deveriam preocupar os canadenses. Em Ohio, Nafta é um palavrão, erroneamente responsabilizado pela perda de 250 mil postos de trabalho nos últimos oito anos. A campanha do senador primeiro mentiu dizendo que não houve o encontro, depois se corrigiu, mas disse que não tinha sido bem assim... Sujou o impecável manto de credibilidade do senador. Entre os que decidiram nos últimos três dias, ela conquistou 61% dos votos. Eles fizeram a diferença, acreditaram mais em Hillary do que nele. No Texas ela ganhou a primária e perdeu no caucus (espécie de assembléias populares, que indicam uma parcela minoritária dos delegados do partido na convenção nacional que indicará o candidato). Argumento a favor Mas há um argumento importante ganhando força a favor dela. O senador, um ex-organizador comunitário, é um campeão de vitórias de caucus, mas eles são menos democráticos e participatórios do que as primárias. No caucus de Minnesota, por exemplo, apenas 200 mil pessoas decidiram a eleição e um delegado representa 2.800 eleitores. Na Califórnia, pelo sistema de primária, um delegado representa 12.700 eleitores. Ou seja, é possível e provável que o senador chegue ao final da campanha com mais delegados, mas sem maioria no voto popular. O último candidato democrata indicado pela convenção sem maioria no voto popular foi Hubert Humphrey, em 1968, e provocou uma reforma no sistema do partido. Além disso, 16 dos 25 Estados que ele ganhou são redutos republicanos que dificilmente votarão num democrata em novembro. E como vai conquistar a Presidência se não consegue ganhar os grandes Estados como Califórnia, Nova York,Texas e Flórida? Nada decisivo No próximo sábado há um caucus em Wyoming, e o Mississipi tem primária na terça. Nada decisivo. Depois serão seis semanas vazias até a Pensilvânia, um Estado grande e importante, mas sem delegados suficientes para decidir a parada. Nem mesmo incluindo os votos da Flórida e do Michigan, que foram punidos pelo partido porque anteciparam as eleições e, pelo menos até agora, não têm delegados. Os super-delegados (caciques do partido que não são indicados nas primárias) vão decidir a eleição. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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