SUS começa a oferecer cirurgias pouco invasivas com a ajuda de robôs

Operação é realidade no Brasil há quatro anos, mas estava restrita a hospitais particulares de SP

PUBLICIDADE

Por Clarissa Thomé e RIO

Por três meses, a promotora de vendas Mônica dos Santos Lima, de 39 anos, sentiu que tinha algo preso na garganta, que a fazia engasgar. Era um tumor nas amígdalas. As opções de tratamento incluíam radioterapia e seus efeitos colaterais - redução da saliva, perda do paladar, deterioração dos dentes - ou uma cirurgia radical, com incisões nas laterais do lábio e acesso do cirurgião ao tumor através da mandíbula, que teria de ser serrada. Mônica não precisou de nada disso. Sentado no canto da sala, o cirurgião Fernando Dias, chefe do Serviço de Cabeça e Pescoço do Instituto Nacional de Câncer, retirou completamente o tumor sem tocar na paciente. Ele controlou o Da Vinci SI, robô de cirurgia minimamente invasiva. Mônica se tornou a primeira paciente a passar por cirurgia robótica no Sistema Único de Saúde. Esse tipo de operação é realidade no Brasil há quatro anos, mas estava restrita a hospitais particulares de São Paulo (Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Albert Einstein, e Sírio-Libanês). O equipamento, desenvolvido nos Estados Unidos, chegou ao Inca em fevereiro, ao custo de R$ 5 milhões, pagos com recursos de investimento do Ministério da Saúde. A primeira cirurgia foi feita em 6 de março. Em dez dias, houve outras cinco, todas na especialidade de cabeça e pescoço. "A missão do Inca não é apenas adotar novas tecnologias, mas desenvolver conhecimento para que a técnica possa ser ampliada aos pacientes do SUS", afirma o diretor-geral do Inca, Luiz Antonio Santini. O médico controla o robô a distância, numa cabine. Ele manipula uma espécie de joystick e guia os quatro braços do robô. Um deles tem câmeras que permitem visão em 3D e amplia a imagem de 10 a 15 vezes. Os outros três têm pinças cirúrgicas que fazem movimentos mais amplos e precisos que os da mão. O equipamento também tem pedais que permitem aproximar e afastar os braços e acionar o sistema de cauterização do corte. O Inca terá duas dessas cabines na mesma sala cirúrgica. Isso permitirá que um médico seja treinado enquanto o outro opera a máquina. Doze médicos, além de enfermeiros, aprenderam como utilizá-la no exterior. A maioria dos profissionais é de jovens, recém-concursados. "Estamos olhando para o futuro. Vai levar alguns anos para que a tecnologia seja implementada no SUS, mas é o tempo para validar a técnica, capacitar pessoas", afirma Santini. No Inca, o aparelho será usado nas cirurgias de urologia, aparelho digestivo, ginecologia e cabeça e pescoço. No futuro, serão feitas cirurgias cardíacas. Santini ressalta que nem todos os pacientes podem se beneficiar da técnica - os médicos prepararão protocolos. Os pacientes operados são tratados com os mesmos cuidados daqueles que entram em protocolo de pesquisa - são informados da nova tecnologia e podem se recusar a passar por cirurgia com a ferramenta. "A experiência internacional é de que 99% dos pacientes recomendariam o robô", diz Santini. Ele afirma que o equipamento abre portas para cirurgias a distância. "A cirurgia robótica surgiu na Nasa, dessa necessidade de se operar uma pessoa a distância. Ainda é uma perspectiva distante, mas possível."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.