Onze dias depois do terremoto que devastou Porto Príncipe e outras cidades haitianas, um sobrevivente em bom estado de saúde foi encontrado entre os escombros de uma frutaria. O homem foi socorrido ontem à tarde (início da noite no Brasil) por uma equipe de resgate francesa, que abriu um túnel para fazer chegar água até ele. O resgate ocorreu em meio a uma controvérsia entre o governo haitiano e a ONU sobre a suspensão das operações de salvamento.O governo haitiano desmentiu a notícia de que teria pedido à ONU para pôr fim às operações. Mas o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha) confirmou o pedido do governo, acrescentando que as operações foram suspensas às 17 horas de sexta-feira e que apenas três equipes ficarão de prontidão para o caso de "milagres", como os três sobreviventes encontrados anteontem."Essa informação é falsa", disse ontem ao Estado Volcy Assad, porta-voz do presidente René Préval, sobre o pedido de suspensão dos resgates. "O presidente nunca disse isso." Já o porta-voz da Ocha no Haiti, Nicholas Reader, reiterou que o governo haitiano anunciou, sim, o fim das operações de resgate. E explicou que elas entraram ontem em nova fase, saindo do resgate de sobreviventes para a retirada de corpos e remoção dos escombros para a reconstrução do país."Duas equipes da Grã-Bretanha e uma da Grécia, que chegou ontem (sexta-feira), continuarão no país, com cães e equipamentos, para responder a sinais de vida", informou Reader ao Estado. O desencontro de informações entre a ONU e o governo do Haiti expôs a falta de coordenação em relação à busca de sobreviventes. A informação de que o governo havia feito o pedido foi dada na sexta-feira em Genebra por Elisabeth Byr, porta-voz da Ocha em Genebra. Mas no mesmo dia à tarde tinha sido negada pela ministra da Comunicação do Haiti, Marie Laurence Joselin Lasègue: "Ainda não vamos suspender os resgates porque estão sendo encontrados sobreviventes", disse ela ao Estado. Ontem, em Genebra, funcionários da ONU ficaram irritados com o comportamento do governo haitiano, acusando-o de rever suas decisões diante do impacto negativo que teriam.É possível que o governo haitiano tenha feito o pedido e voltado atrás depois dos novos resgates. O presidente René Préval tem manifestado sua preocupação com o risco de doenças causadas por tantos corpos soterrados. Préval disse que era preciso levar os desabrigados para novos acampamentos fora de Porto Príncipe antes que comece a chover, o que aumentará o risco de doenças.O chefe da missão civil da ONU, general Floriano Peixoto Vieira Neto, informou ontem que o trabalho de resgaste de sobreviventes pelos bombeiros brasileiros ainda não terminou. "Continuamos com nossas equipes, cães, em busca de sobreviventes", disse. Seu trabalho, como o de outros grupos, não está sob a coordenação da Ocha. Várias equipes já deixaram o Haiti.Até ontem, haviam sido resgatadas pelo menos 132 pessoas com vida dos escombros. Mais de 100 mil corpos foram retirados. O governo haitiano estima que, até o fim da semana, será confirmada a morte de 150 mil pessoas. O general americano Ken Keen, que comanda as forças especiais americanas, acredita que a cifra pode chegar a 200 mil. COLABORARAM LEANDRO COLON, DE PORTO PRÍNCIPE, E JAMIL CHADE, DE GENEBRA