O corpo do compositor Dorival Caymmi, falecido ontem, foi retirado da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, onde era velado, por volta das 14h45. Ele foi aplaudido enquanto o caixão era transportado por filhos e amigos na descida da escada da Câmara. Depois colocado no alto de um carro do Corpo de Bombeiros, com coroas de flores, o caixão foi coberto com as bandeiras do Brasil, da Mangueira, do Flamengo e da Bahia. Enquanto aguardava a saída do carro com o corpo do pai, a cantora Nana Caymmi chorou e depois cantou baixinho, do alto da escadaria, a música "Adeus", que Dorival compôs quando tinha 18 anos. Ela estava amparada pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, com quem conversou. Ao lado de Nana estava também o governador da Bahia, Jacques Wagner. Cabral contou que era amigo da família e que se lembrava de Dorival dizendo que o conheceu "no estojo", ou seja, na barriga da mãe dele. "Era uma pessoa muito suave, como nas músicas dele". "Caymmi foi sem dúvida um dos maiores compositores do mundo e do Brasil, do time de Noel Rosa e Ary Barroso", disse Cabral. De acordo com ele, Caymmi foi o precursor de uma integração das culturas da Bahia e do Rio, de artistas baianos que escolheram o Rio para morar, como Caetano Veloso, Gilberto Gil e João Gilberto. Para o governador, que decretou luto de três dias no Rio pela morte de Caymmi, o compositor será objeto de muitas homenagens ainda no Brasil. O pai do governador, o jornalista e crítico de música Sérgio Cabral, exaltou a originalidade de Caymmi e registrou que ele preferia a qualidade à quantidade na produção musical. "Mas ele foi tão importante que foi além da música. Foi um grande brasileiro", afirmou. O filho mais velho de Dorival, Dori Caymmi, que mora nos Estados Unidos e chegou hoje para o velório e enterro, também exaltou o pai como "um dos melhores brasileiros" que conheceu. Ele se declarou "completamente arrasado" e lembrou que sua mãe está internada em unidade de terapia intensiva (UTI) hospitalar, em um desabafo emocionado à imprensa sobre Caymmi e ao mesmo tempo crítico à corrupção no Brasil. "Ter sido educado por essa coisa tão despojada de ambição, tão cheia de amor, tão mulherengo, tão criativo, tão acreditando que este país é o país, sem até tempo para se decepcionar com as grandes falcatruas que acontecem... Ter sido educado por este homem me fez tão bem, me faz tão mal", disse Dori. "Mas eu dentro da minha incapacidade de ser tão grande, queria que ele me levasse em vez de eu levar ele", afirmou. Para Dori, "este País não podia perder Caymmi, Jorge Amado, Ary Barroso, Guimarães Rosa".
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