Tesouro mostra que pode atuar no mercado cambial

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Por LUCIANA OTONI E TIAGO PARIZ

O Tesouro Nacional mostrou que está alinhado com o governo para enfrentar a "guerra cambial" e conter a excessiva valorização do real. O secretário do órgão, Arno Augustin, indicou nesta quinta-feira que pode ir a mercado para adquirir mais 7,5 bilhões de dólares para quitar o vencimento integral da dívida externa que vence até 2015, ou até mesmo mais longe, a partir de 2016. Também podem vir emissões externas em real. O Tesouro já possui 7,4 bilhões de dólares em caixa para pagar 49 por cento da dívida externa a vencer até 2015, como consta no Plano Anual de Financiamento (PAF) de 2012, divulgado nesta quinta-feira. Neste momento, a dívida externa brasileira vencendo nos próximos quatro anos é de aproximadamente 15 bilhões de dólares. "Não consideramos que haja limites. Se acharmos que é o caso de irmos mais rápido, podemos ir. Se for necessário, podemos comprar mais (títulos)", afirmou o secretário, ao comentar o Plano Anual de Financiamento (PAF) do Tesouro de 2012. A atuação do Tesouro no mercado pode ocorrer a qualquer momento, constituindo-se em mais uma arma do governo contra a valorização cambial. Segundo Augustin, o prazo dos títulos para a recompra antecipada pode ultrapassar o limite atual de 2015 e abranger também os papéis que vencem a partir de 2016. "O governo pode alongar o prazo de recompra de títulos para um prazo superior a quatro anos para impedir valorização excessiva do real", comentou o secretário. O governo tem atuado com força para evitar mais altas do real frente ao dólar, como as intervenções do Banco Central no mercado cambial e limitações em financiamento à exportação. Até mesmo a presidente Dilma Rousseff já afirmou que, se necessário, o governo tomará novas medidas para impedir esse movimento. Para efetivar essa possível atuação, o Tesouro terá, no entanto, que aprovar no Conselho Monetário Nacional (CMN) pedido de ampliação do prazo atual de quatro anos para a recompra antecipada. Augustin disse que o critério será a maior ou menor volatilidade do câmbio, negando-se a quantificar qual o montante total dos dólares que podem ser adquiridos. "Jamais diremos quanto o Tesouro vai comprar no mercado de câmbio", afirmou ele. EMISSÕES EM REAL Augustin afirmou ainda que num momento de "guerra cambial", emissões soberanas externas em real ajudam. Isso porque elas dão ao investidor a opção de estar posicionado em um título brasileiro sem gerar entrada de dólares no país. Ele adiantou ainda que, nas próximas semanas, haverá emissão externa. "(Isso) direciona o investidor a ficar no exterior sem necessidade de entrar com dólares no país", afirmou Augustin. Segundo o secretário, o Tesouro poderá fazer ainda neste semestre a troca de cerca de 35 bilhões de reais em LFTs, títulos remunerados pela Selic, em mãos do Fundo Garantidor do Tempo de Serviço (FGTS), por dívida prefixada e atrelada à índice de preços. Essa operação vai acelerar a velocidade de redução da dívida interna corrigida por taxa flutuante e aumentar a parte mais previsível. Para Augustin, a troca é facilitada por esse momento da flexibilização da política monetária. O secretário do Tesouro afirmou que, apesar da Selic ter chegado a 9,75 por cento ao ano, próximo ao patamar da remuneração da poupança, não vê movimento de saída de investidores de aplicação em renda fixa. "Demanda de fundos de investimento por títulos da dívida pública não diminuiu com queda da selic", afirmou. FINANCIAMENTO Os comentários do secretário sobre o potencial de intervenção do Tesouro foram feitos durante a apresentação do PAF de 2012. No relatório, o governo informa que a necessidade líquida de financiamento da dívida pública federal, que abrange a dívida interna e externa em títulos federais, totaliza 362,34 bilhões de reais. O estoque da dívida pública federal (interna e externa) deve fechar este ano entre 1,950 trilhão e 2,050 trilhões de reais, segundo meta fixada pelo Tesouro. Em 2011, o estoque fechou em 1,866 trilhão de reais. A banda de variação do estoque da dívida prefixada esperada pelo Tesouro é de 37 por cento a 41 por cento no fim do ano, enquanto que para os papéis remunerados por índice de preços é de 30 a 34 por cento. Já os papéis atrelados à Selic têm mínimo de 22 por cento e máximo de 26 por cento e os ligados ao câmbio, de 3 a 5 por cento. No documento divulgado nesta quinta-feira, o Tesouro salienta que o objetivo para este ano é fazer o percentual de títulos prefixados somados aos papéis indexados à inflação fique acima de 65 por cento do estoque, numa projeção conservadora. E num cenário otimista, o estoque deve ficar superior a 70 por cento.

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