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Tiro mata mãe e fere filha na Penha

Criança está em estado grave e parentes dizem que bala partiu de policiais militares; PM nega a acusação

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Por Pedro Dantas e RIO
Atualização:

Ana Cristina Costa do Nascimento, de 24 anos, morreu e sua filha de 11 meses, Caienny, que estava em seu colo, também foi atingida por uma bala perdida e corre o risco de ter o braço esquerdo amputado. As duas foram baleadas no domingo à noite, na entrada da Favela Kelson"s, na Penha, zona norte do Rio. A bala entrou pelas costas de Ana Cristina, saiu pelo peito e feriu a criança.As pessoas que acompanhavam as vítimas, entre elas o pai da menina, afirmam que a bala partiu de uma viatura do 16º Batalhão de Polícia Militar de Olaria, que entrou na comunidade atirando. "Por volta das 22h30, a polícia entrou atirando. Havia um poste de luz aceso e estava claro. Era possível ver que tinha uma família que seguia para casa", lamentou Anílton Aragão, de 24 anos, viúvo da vítima. Segundo ele, a família, que mora em Vista Alegre (subúrbio do Rio), voltava da casa da irmã de Ana Cristina, moradora da Kelson"s, onde planejaram o aniversário de 1 ano da filha caçula. O casal também estava com o filho Cauene, de 3 anos, Cauã, de 6, um primo das crianças e um tio.A família afirma que os policiais estavam em duas Blazers e dois Gols e só pararam de atirar ao ouvir Ana Cristina gritar: "Socorro, acertaram o meu peito. Minha filha também está ferida." Ontem, 200 pessoas participaram do enterro no Cemitério de Irajá (zona norte). O bebê permanece em estado grave no Hospital Getúlio Vargas e a Secretaria de Estado de Saúde informou que é cedo para saber se o braço da menina será mesmo amputado ou terá sequelas. De acordo com a Polícia Militar, os policiais foram atacados a tiros por traficantes, não revidaram e socorreram as vítimas. Ontem, a 22ª Delegacia de Polícia da Penha realizou uma reconstituição do crime. Moradores da Kelson"s protestaram e foram dispersos com spray de pimenta por policiais militares.Ana Cristina foi a 47ª pessoa assassinada após o helicóptero da PM ser abatido, no dia 17, durante a invasão de traficantes rivais ao Morro dos Macacos. Além dela, pelo menos cinco pessoas inocentes morreram com o recrudescimento dos confrontos entre traficantes e policiais. O 16º BPM é a unidade policial mais acionada na busca aos criminosos e participa de operações em várias favelas.MANIFESTOOrganizações não-governamentais classificaram de "revide" as operações policiais. Manifesto assinado por diversas entidades - entre elas Justiça Global, Grupo Tortura Nunca Mais e Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação - aponta que o governo do Estado do Rio age "de forma vingativa" e "manipula a reação pública" por meio do "pânico que oculta mortes, ferimentos, fechamento de escolas, creches, postos de saúde e comércio". O documento aponta que a "política do confronto" busca respaldo "nos grandes acontecimentos esportivos previstos para ocorrer na cidade", numa referência aos Jogos Olímpicos. Ninguém do governo do Estado foi localizado pela reportagem para comentar as acusações. Ontem foi feriado no Rio para os servidores municipais, estaduais e federais.A PM retirou o cerco ao Morro dos Macacos e ao Morro São João, em Vila Isabel. Associação dos moradores diz que 60% da população local deixou o Morro dos Macacos com medo de novos confrontos.FRASEAnílton AragãoViúvo da vítima"Por volta das 22h30, a polícia entrou atirando. Havia um poste de luz aceso e estava claro. Era possível ver que tinha uma família que seguia para sua casa"

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