Toque brasileiro reviveria negociações comerciais--candidato à OMC

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Por ALONSO SOTO
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A Organização Mundial do Comércio (OMC) precisa das habilidades diplomáticas e de formação de consenso do Brasil para ressuscitar as negociações comerciais globais, disse nesta quinta-feira o candidato brasileiro à chefia da organização, Roberto Azevedo. Azevedo, um negociador experiente que representou o Brasil na OMC, concorre contra oito outros candidatos para liderar uma organização que enfrenta dificuldades para manter sua relevância após repetidos fracassos para reformar as regras do comércio internacional. "A capacidade do Brasil de articular e fortalecer o sistema multilateral é algo que é favorecido por todos na OMC", disse Azevedo em uma coletiva de imprensa em Brasília. "O fato de que eu venho do Brasil, um país com uma longa história diplomática, é algo positivo, vai me ajudar". O Brasil emergiu como uma potência econômica na última década, o que aumentou sua influência em organizações multilaterais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização das Nações Unidas (ONU). A ascensão do país como uma nação dos Brics auxiliou sua reputação de um construtor de pontes entre os países ricos e em desenvolvimento. No entanto, o Brasil incomodou alguns dos membros da OMC ao aumentar os tributos sobre dezenas de produtos importados, de carros a vidros e tubos de ferro, para afastar a competição de fabricantes estrangeiros, como os oriundos da China --que também é membro dos Brics, grupo que reúne economias emergentes e inclui ainda a Rússia, a África do Sul e a Índia. Os esforços brasileiros liderados por Azevedo para discutir o impacto de movimentos cambiais sobre o comércio mundial na OMC também causaram uma impressão ruim em outros países. Após conseguir que os membros da organização concordassem em analisar os conteúdos disponíveis sobre o assunto, o Brasil fez circular uma proposta em 5 de novembro explicando que as regras da OMC abordavam distorções no comércio vinculadas ao câmbio, mas não instrumentos adequados para uma ação direta. A China foi um dos países que rejeitou a proposta. Azevedo disse que o impulso para se debater câmbio e comércio é um exemplo de como ele será capaz de fazer com que todos os envolvidos se reúnam e discutam uma questão controversa sem resultar em "banhos de sangue". Se eleito, ele disse que não vai impor a questão cambial à agenda da OMC, mas afirmou que cabe a todos os membros avançar as negociações e acordar quaisquer instrumentos para impedir que flutuações cambiais prejudiquem o comércio global. Conseguir que todos os membros deem fim a um impasse que descarrilou uma década de debates sobre liberalização comercial pode ser muito mais difícil para quem quer conquistar a liderança da OMC. A credibilidade da OMC sofreu um sério golpe em 2011, quando seus países-membros reconheceram que a Rodada de Doha, em andamento há dez anos com o objetivo de culminar em um obstinado novo acordo, estava, se não morta, pelo menos em um impasse. "Com toda a honestidade, é difícil dizer o quanto o novo diretor-geral (da OMC) será capaz de fazer para continuar as negociações em sua amplitude máxima, em que elas foram originalmente formuladas", disse Azevedo. "O que o diretor pode fazer é entender os desejos dos membros, e avançar com uma agenda de negociações torna todos esses desejos viáveis", acrescentou. O segundo mandato do atual diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, acaba em 31 de agosto. Outros candidatos para substituí-lo incluem membros de Nova Zelândia, Gana, México, Costa Rica, Coreia do Sul, Quênia, Jordânia e Indonésia.

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