Os dois meninos e o adolescente têm a função de fazer o atendimento: pegam o dinheiro, separam a droga e a entregam ao usuário. A menina de agasalho rosa é a "olheira" - avisa quando a polícia está por perto. Esse flagrante registrado na semana passada revela que o esquema de drive-thru das drogas continua a funcionar nas favelas nas proximidades da Avenida Jornalista Roberto Marinho, que corta os bairros do Brooklin e Campo Belo, na zona sul da capital. Em abril de 2006, a reportagem denunciou três drive-thrus que funcionavam na região: Palmares-Emboabas, Cristóvão Pereira e Buraco Quente. Apesar das ações das Polícias Civil e Militar, após a denúncia, dois deles continuam a funcionar. E usando crianças e adolescentes como mão de obra. Um drive-thru fica na Rua Palmares. Às 23h45 de quinta-feira, os meninos vendiam droga para o motorista de uma picape Fiat Strada, quando um Toyota Corolla chegou. Os dois compraram a droga e foram embora. O outro drive-thru flagrado pela reportagem, que continua ativo, é o da Rua Cristóvão Pereira, no sentido Marginal do Pinheiros. O movimento ocorre próximo de um trailer de lanches que funciona até de madrugada. Quem conhece o esquema desce a rua com os faróis do carro apagados - uma indicação de que vai comprar o entorpecente. O único que encerrou as atividades ou mudou de endereço é o da Favela Buraco Quente, que funcionava à beira da Avenida Washington Luís. Para o coronel aposentado da PM José Vicente da Silva Filho, ex-secretário nacional de Segurança Pública, quando o crime se fixa em um lugar é porque há uma grande falha no trabalho das polícias territoriais - delegacias e batalhões que atuam no local. Ou há corrupção policial. "Quando o crime, ainda mais o tráfico de drogas, persiste num lugar, podemos desconfiar que tem policial na ?folha de pagamento? do traficante." O promotor e coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça, Augusto Rossini, acredita no trabalho das polícias de São Paulo. "Os policiais e a Justiça fazem a sua parte, o problema está na legislação, principalmente com os adolescentes. O que adianta se na maioria das vezes a lei permite que o traficante (adulto) seja condenado a uma pena de 2 anos? Isso estimula o crime", diz Rossini. VIZINHANÇA Os moradores da região se queixam por ter o tráfico praticamente na porta de casa - desde o barulho de carros que vara a madrugada, passando por pequenos furtos, até chegar a sequestros relâmpagos e latrocínios (roubos seguidos de mortes). "Já pularam para dentro da minha garagem e levaram as portas do registro de água e os números de latão. Isso aconteceu com vários moradores do bairro. São viciados que fazem isso para conseguir dinheiro", disse um morador do Campo Belo, que não quis ser identificado. "Hoje, para mim, todo moleque que passa na frente do portão é suspeito. Meus filhos brincam da porta para dentro ou na casa dos amigos", disse um morador do Brooklin - que também não quis revelar o nome. A Assessoria de Imprensa da Polícia Militar informou que, de janeiro a maio de 2009, o 12º Batalhão, responsável pelo policiamento na região, prendeu ou deteve 50 pessoas envolvidas em ocorrências de porte ou tráfico de drogas nas proximidades das favelas na Avenida Jornalista Roberto Marinho. Segundo a Polícia Civil, investigadores do 96º Distrito Policial (Brooklin), uma das delegacias que atendem a região, em menos de dois meses prenderam cinco traficantes e detiveram um adolescente. Um deles tem ligação com Sonia Aparecida Rossi, a Maria do Pó - considerada a maior traficante do Estado, que está foragida.
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