Um tribunal de Belgrado ordenou que Radovan Karadzic, preso na segunda-feira acusado de crimes de guerra e genocídio durante o conflito da Bósnia nos anos 1990, seja transferido para o Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia, em Haia, na Holanda. Karadzic é acusado de genocídio, perseguição, deportação e tomada de reféns. A expectativa, porém, é que o seu julgamento - um processo que em si pode ser rápido, segundo analistas - só comece dentro de meses, por conta da batalha legal que deve se travar a partir de sua prisão. Procuradores estimam que pode levar vários dias até que o ex-líder seja transferido para a Holanda, já que ele deve apelar contra a decisão de extraditá-lo da Sérvia. Segundo a correspondente da BBC em Haia, Geraldine Coughlan, uma vez iniciado o processo internacional Karadzic deve ser levado para a unidade de detenção de Haia e fazer sua primeira aparição no tribunal em questão de dias a partir daí. De acordo com a correspondente, o julgamento em si não deve ser demorado, já que o tribunal implementou novos procedimentos para acelerar os trâmites. O promotor-chefe do tribunal, Serge Brammertz, disse que a prisão de Karadzic é importante não só para as vítimas dos crimes dos quais é acusado, mas também "para a justiça internacional, porque demonstra claramente que ninguém está além da justiça, e que mais cedo ou mais tarde todos os fugitivos serão julgados". O ex-líder sérvio foi preso na segunda-feira. Ele foi indiciado pelo Tribunal das Nações Unidas para Crimes de Guerra, em Haia, na Holanda, em julho de 1995, acusado de autorizar a morte de civis durante o cerco de Sarajevo, que durou 43 meses. Quatro meses depois, foi indiciado por genocídio pela morte de 8 mil homens e meninos muçulmanos, depois que as forças de Ratko Mladic tomaram uma área considerada segura pelas Nações Unidas, Srebrenica, no leste da Bósnia. Mladic ainda é procurado pelas autoridades. Por seu próprio cronograma, a Corte deve concluir todos seus trabalhos até 2012. Reações A prisão de Karadzic levou os Estados Unidos e a União Européia a aplaudir a operação das autoridades sérvias, mas o governo russo demonstrou preocupação com o envio do ex-líder para Haia. O Ministério do Exterior russo disse esperar que o julgamento de Karadzic seja "aberto e imparcial" - ressaltanto, entretanto, que o Tribunal de Haia demonstrou uma "abordagem parcial" no passado. O governo russo também disse que os países da região são "maduros e capazes de investigar de maneira independente" os episódios da Guerra da Bósnia. Por usa vez, o representante da União Européia para política externa, Javier Solana, disse que o lugar de Karadzic "é no Tribunal de Haia, tendo um julgamento justo e respondendo pelos crimes dos quais ele é acusado". O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, disse que a prisão de Karadzic representa um "momento histórico para as (suas) vítimas". "Este é um momento histórico para as vítimas, que esperaram durante 13 anos para que Karadzic fosse levado aos tribunais", disse Ban Ki-Moon. Richard Holbrooke, o diplomata americano que mediou os acordos de Dayton para a paz na Bósnia, em 1995, qualificou o dia da prisão de um "dia histórico". "Um dos piores homens do mundo, o Osama Bin Laden da Europa, finalmente foi capturado. É significativo que a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, a aliança de defesa ocidental) continuou a fracassar e os sérvios o capturaram (...) um grande, grande bandido foi retirado da cena pública", afirmou Holbrooke. O governo americano também se manifestou sobre a detenção do ex-líder sérvio. "Nós cumprimentamos o governo da Sérvia e agradecemos às pessoas que conduziram esta operação por seu profissionalismo e coragem", disse a nota da Casa Branca. "Esta operação é uma demonstração importante da determinação do governo sérvio em honrar seu compromisso de cooperar com o tribunal de Haia." Já o presidente rotativo da Bósnia, o muçulmano Haris Silajdzic, disse que não há "júbilo", mas sim "alívio" para as vítimas, que tiveram que esperar por muito por muito tempo. "Eu fico feliz que isso poderá agora abrir caminhos para uma melhor cooperação nesta parte do mundo", afirmou. 'Aspirações européias' A prisão de Karadzic e de seu comandante militar é uma das condições para uma aproximação da Sérvia da União Européia. "Este foi um desdobramento muito positivo que vai contribuir para trazer justiça e reconciliação duradoura para o oeste dos Bálcãs", disse o presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso. "Isto prova a determinação do novo governo sérvio de conseguir plena cooperação com o tribunal de Haia. Também é muito importante para as aspirações européias da Sérvia", concluiu Barroso. A Grã-Bretanha também sugeriu que a prisão do líder sérvio pode render frutos ao país na Europa. "Esta prisão vai ajudar a encerrar as décadas de conflito na região e abrir caminho para um futuro europeu mais brilhante para a Sérvia e a região", disse o ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, David Miliband. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.