Pela primeira vez em quatro anos como prefeito, Gilberto Kassab (DEM) viu sua sólida base governista rachar na Câmara Municipal. O PSDB, partido com a maior bancada e aliado do governo, boicotou ontem a votação do projeto que aumenta os salários do prefeito, da vice, Alda Marco Antonio, e dos 28 secretários e expôs mais uma vez o racha entre a cúpula do governador José Serra e parte do núcleo kassabista. O líder tucano Carlos Alberto Bezerra surpreendeu os colegas ao anunciar em plenário, por volta das 18h30, que o partido achava inoportuno e inadequado o momento para elevar os vencimentos do prefeito. "A cidade tem outras prioridades no momento", argumentou Bezerra, que antes não havia manifestado posição contrária ao aumento, em discussão no Legislativo há 30 dias. Entre os 13 vereadores do PSDB, somente o líder de governo, José Police Neto (PSDB), foi favorável ao reajuste que elevaria o salário de Kassab a 90,25% dos vencimentos de ministro do Supremo Tribunal Federal, ou R$ 23,1 mil hoje. O salário de Alda chega a R$ 20,8 mil e o dos secretários, a R$ 19,6 mil. A segunda maior bancada, a do PT, com 11 vereadores, apoiou a iniciativa dos 12 tucanos. Juntos com os dois vereadores do PC do B, petistas e tucanos se ausentaram na hora da votação, que teve 16 votos sim, 9 não e 3 abstenções. Para conseguir ser aprovado em primeira discussão, o texto precisava de maioria simples (28 votos dos 55 parlamentares). O governo deve buscar acordo com os tucanos nos próximos dias para tentar nova votação na segunda-feira.Os tucanos sofreram ataques de colegas da base aliada. Líder do DEM, Carlos Apolinário disse que os vereadores poderiam cometer "prevaricação" ao não votar a proposta, já que fixar subsídios do chefe do Executivo é obrigação constitucional do Legislativo. TENSÃO Em 43 propostas aprovadas este ano pelo Legislativo, algumas polêmicas como a restrição aos ônibus fretados e o aumento do IPTU, Kassab sempre conseguiu o apoio de pelo menos 39 dos 55 vereadores. A oposição apresentada ontem pelo PSDB reflete o aumento de tensão entre a cúpula de Serra e os kassabistas que veio com os problemas causados pelas chuvas que inundaram a cidade. A relação já estava em crise desde outubro, quando o prefeito enviou à Câmara projeto para elevar o imposto predial em até 60%. Os tucanos, com receio do desgaste que a aprovação do aumento poderia render nas eleições de 2010, barraram a proposta até conseguir reduzir o teto para 45%. Mesmo assim, Serra teme que o aumento para 1,7 milhão de proprietários de imóveis cause impacto na sua provável candidatura à Presidência, já que o governador é padrinho político de Kassab.A situação foi agravada na terça-feira, com as enchentes na cidade. O pronunciamento de Kassab, que elogiou as obras da Prefeitura e disse que a culpa pela inundação seria o defeito em uma bomba na cabeceira do Rio Tietê, gerenciada pelo governo estadual, irritou secretários serristas.Nos últimos dois meses, também deixaram o governo em situação de desgaste junto ao prefeito os dois últimos secretários tucanos que faziam parte da cúpula da Prefeitura, Andréa Matarazzo (Coordenação das Subprefeituras) e Manuelito Magalhães (Planejamento). Tucanos também criticam o fato de Kassab, nos bastidores, orientar prefeitos do DEM no interior a não apoiarem a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) ao governo do Estado em 2010. Câmara vai pagar R$ 17 mi a agência de publicidade O mesmo PSDB que rejeitou aumento do prefeito deu autorização para a Mesa Diretora contratar, por R$ 17 milhões anuais, uma agência de publicidade. O projeto, aprovado em segunda discussão, é capitaneado pelo publicitário e vereador tucano Dalton Silvano, que defende o novo serviço como forma de "dar no noticiário paulistano o espaço que os trabalhos do Legislativo não possuem na grande imprensa". A Câmara aprovou ainda um bônus fixo de R$ 885 a ser pago em todo mês de dezembro a 3.200 funcionários ativos, inativos e pensionistas - antes o bônus poderia chegar ao valor total do vencimento. A revisão do Plano Diretor fica para 2010.