Uniões informais crescem no Brasil em uma década

Entre 2000 e 2010, proporção de casados no civil e religioso caiu de 49,4% para 42,9%; a de 'juntados' subiu de 28,6% para 36,4%

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Por Luciana Nunes Leal e RIO
2 min de leitura

Um novo perfil da família brasileira está desenhado nos dados do Censo 2010 divulgados ontem pelo IBGE. Cresceram as uniões informais, os casais sem filhos e os casamentos inter-raciais. Também há mais separações e divórcios. E, pela primeira vez, o IBGE levantou informações sobre dois tipos de casais: os de mesmo sexo e os que vivem com enteados, além de filhos.Pouco mais de um terço dos brasileiros que vivem sob algum tipo de união conjugal não formalizou o casamento no civil nem no religioso. A chamada união consensual foi a única que teve crescimento na década 2000-2010, de 28,6% para 36,4%. A proporção de pessoas casadas no civil e no religioso caiu de 49,4% para 42,9% . "O casamento informal era mais concentrado na Região Norte e entre casais de baixa renda. Agora, está mais disseminado. É comum a decisão de passar por uma experiência antes de contrair matrimônio. Existe também uma questão econômica, já que a união consensual requer menos gastos, não só com a festa, mas com todas as formalidades. Houve uma mudança cultural, iniciada pelos jovens", diz Ana Lúcia Saboia, do IBGE. É o caso dos empresários Eduardo Almeida e Sylvia Teixeira, ambos com 29 anos, cada um dono de seu próprio negócio. Os dois vivem juntos há dois anos, em Porto Alegre, e priorizaram a busca de outros sonhos antes da formalização do casamento. "Queremos comprar uma casa", explica Sylvia.Um cenário bem diferente do que viveu a consultora pedagógica paulista Priscila Monteiro, "juntada" com o marido, José Costa, há 22 anos. Naquela época, conta ela, a decisão de não se casar significava uma posição ideológica. "Eram só os considerados alternativos que faziam isso, os mais intelectuais, que eram contra a regra do sistema", diz ela. Antes de se unir a José, Priscila já tinha tido outra experiência similar, que durou cerca de quatro anos. Desse primeiro relacionamento, nasceram seus dois filhos mais velhos. Um deles decidiu não seguir a tradição materna e se casou no cartório. "É uma decisão muito pessoal. E optar pelo não casamento formal perdeu a conotação revolucionária que tinha antes", diz Priscila. Hoje, até dentro da Igreja esse tipo de união tem crescido. Quase quatro em cada dez católicos casados (37,5%) não passaram por cerimônia institucional. Em 2000, eram 28,7%. Escolaridade. Os dados também mostram que homens e mulheres tendem cada vez mais a se unir a pessoas do mesmo nível educacional. Em 2010, 68,2% dos casais tinham o mesmo nível de instrução. Em 2000, eram 65%. "Os ganhos em escolaridade tornam a população um pouco mais homogênea", diz o técnico do IBGE Leonardo Athias. Mudanças demográficas, como queda da taxa de fecundidade, econômicas, como ingresso crescente da mulher no mercado de trabalho, e legais, como a diminuição na burocracia para o divórcio, contribuíram para mudanças no perfil das famílias brasileiras. A proporção de divorciados quase dobrou em dez anos, passou de 1,7% da população brasileira para 3,1%. Os casados caíram de 37% para 34,8%. Com as mulheres tendo menos filhos e mais tarde, houve um aumento das famílias formadas por casais sem filhos, que passaram de 15% para 20,2%. Mas o arranjo familiar mais comum continua a ser o de casais com filhos: 55%. Em 2000, eram 63,6% das famílias. Do total de 27,4 milhões de casais com filhos, cerca de um sexto (16,3%) vive com enteados e filhos ou apenas com enteados. Eles formam o que o IBGE chama de "famílias reconstituídas". Em dez anos, aumentou a proporção de domicílios que têm mulheres como responsáveis. Em 2000, eram 22,2% moradias e chegaram a 37,3% em 2010. Segundo o IBGE, é mais um reflexo do aumento da escolaridade e da renda da população feminina e também das mudanças culturais registradas nas últimas décadas. / COLABOROU OCIMARA BALMANT

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