As eleições municipais de 2012, realizadas em meio ao julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), voltaram a reunir, desta vez como prefeitos eleitos de capitais, quatro proeminentes vozes da oposição à época da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Correios --investigação no Congresso, instalada logo após a eclosão do escândalo, em 2005. Hoje divididos entre oposição e aliados do governo federal petista, estavam naquela época entre os "caçadores de mensaleiros" --e algozes do governo Lula-- Eduardo Paes, prefeito reeleito no Rio pelo PMDB ainda no primeiro turno, e os eleitos neste domingo em Curitiba, Gustavo Fruet (PDT); Salvador, ACM Neto (DEM); e Manaus, Arthur Virgílio (PSDB). Dos quatro, Virgílio e ACM Neto continuam na oposição, e durante a campanha que resultou na sua consagração nas urnas fizeram questão de lembrar o episódio do mensalão. Paes, que era do PSDB em 2005 e depois se transferiu para o PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer, está na base aliada do governo federal desde o segundo mandato de Lula, com quem fez as pazes antes mesmo de assumir a prefeitura do Rio, em 2009. Já Fruet trocou o PSDB pelo PDT no ano passado e concorreu à prefeitura da capital paranaense com o apoio da principal ministra de Dilma, a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Apesar de a eleição dos quatro se dar em um momento em que as campanhas foram inundadas com notícias sobre o mensalão, escândalo reavivado com as sessões de julgamento do STF, que condenou a cúpula petista acusada de comandar o esquema de compra de apoio político no Congresso, especialistas garantem que tudo não passa de "coincidência" e que o caso não teve força importante nas urnas. Além do julgamento e da recordação das denúncias contra os petistas e aliados do governo Lula ter influenciado pouco no voto do eleitor, de acordo com analistas e pesquisas, em pelo menos um caso --o de Fruet-- a atuação vigorosa na época da CPI e o apoio petista em sua campanha foram uma pedra no sapato do pedetista, e chegou a ameaçar sua eleição. "Para o eleitor, o caso (do mensalão) é muito complicado", disse a diretora do Ibope Márcia Cavallari, para quem o que pesou neste pleito municipal foram as demandas locais. No caso de ACM Neto, a maior ajuda foi o desgaste do governo do PT no Estado, enquanto que para Arthur Virgílio, em Manaus, contou o desempenho acanhado de sua adversária, a senadora Vanessa Grazziotin, do PCdoB, que tirou dele a vaga ao Senado há dois anos. Os dois ex-carrascos do PT à época da CPI dos Correios que continuam na oposição tiveram que enfrentar, não por acaso, a presença de Lula e da atual presidente nos palanques adversários em Salvador e Manaus. Para o ex-presidente, pelo menos, derrotá-los parecia missão pessoal. "Tancredo nos ensinou que na política não tem amigos e inimigos. Tem aliados e adversários, porque nunca se sabe quando serão amigos ou inimigos", disse David Fleischer, cientista político da UnB.