O Uruguai informou nesta segunda-feira à Corte Internacional de Justiça de Haia que uma fábrica de papel e celulose na margem esquerda do rio que dá nome ao país cumpre todos os padrões ambientais, contrariando as acusações argentinas de que o empreendimento polui a região fronteiriça. A construção da fábrica há anos causa atritos entre Uruguai e Argentina, gerando protestos e bloqueios rodoviários de ambientalistas argentinos. "(A fábrica) não causou poluição nociva ao rio. Ela não colocou em risco a ecologia do ecossistema", disse Alan Boyle, advogado do governo uruguaio. "Ela cumpre... com os padrões de proteção da qualidade da água e do meio ambiente definidos por ambas as partes." Boyle disse que análises de especialistas apontados pela Corporação Internacional de Finanças, braço do Banco Mundial para a iniciativa privada, mostraram que não houve mudança na qualidade da água desde que a fábrica começou a operar, em fevereiro de 2007. O advogado afirmou que a quantidade de efluentes descarregados pela fábrica é muito inferior ao material despejado por indústrias argentinas também situadas ao longo do rio Uruguai. Montevidéu alega que o fósforo e o nitrogênio descarregados pela fábrica de papel rapidamente se dissolvem no rio e no Atlântico. Num processo levado em 2006 ao tribunal de Haia, a Argentina queixava-se de não ter sido consultada a respeito da obra, de 1,2 bilhão de dólares, operada pela empresa finlandesa Metsa-Botnia, um dos maiores investimentos privados na história do país. Aquele trecho do rio Uruguai é muito usado para pesca, lazer e turismo. Por causa da polêmica, a espanhola Ence, que também pretendia instalar uma fábrica na região, decidiu realocar seu empreendimento. A sentença do tribunal, prevista para 2010, pode obrigar o Uruguai a fechar ou alterar o funcionamento da fábrica da Metsa-Botnia. Em resposta às acusações argentinas, o embaixador uruguaio nos EUA, Carlos Gianelli, disse que representantes ambientais de ambos os países se reuniram 12 vezes em 2005 e 2006. Ele também rejeitou a acusação argentina de que a poluição estaria provocando a proliferação de algas, alegando que esse fenômeno surgiu bem a montante da fábrica.
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