A Vale deu um grande passo para aumentar sua presença na área de fertilizantes, com a compra, por US$ 3,8 bilhões, dos ativos de produção de fertilizantes da multinacional Bunge no Brasil. O negócio envolve minas de rocha fosfática e plantas de processamento de fosfatados, além de participação direta e indireta de 42,3% no capital total da Fosfertil - a maior fornecedora de matéria-prima para a indústria de fertilizantes no Brasil. A transação não envolve negócios de varejo ou distribuição de fertilizantes.Após a aquisição, a Vale deve se concentrar agora na compra das ações dos outros acionistas do bloco de controle da Fosfertil: a Mosaic (controlada pela Cargill) e a Yara. Segundo uma fonte do setor, as negociações já estão adiantadas e a expectativa é de que o acordo seja anunciado brevemente. "A mineradora tem intenção de deter 100% da Fosfértil e está confiante de que há um caminho para o entendimento tanto com a Mosaic quanto com a Yara", afirmou outra fonte.Caso tenha sua oferta aprovada, a Vale, segundo analistas, gastaria cerca de US$ 1,8 bilhão na operação. Atualmente, a Mosaic detém participação direta e indireta de 20,1% na empresa, enquanto a Yara tem participação total de 15,4%. A Vale já anunciou que fará, além disso, uma oferta pública pelas ações ordinárias dos acionistas minoritários da Fosfertil.O avanço da Vale no setor de fertilizantes já havia sido sinalizado pela empresa, que pretende estar entre as maiores empresas do setor em quatro anos. Em 2009, a Vale chegou a cogitar a possibilidade de entrar na briga pela gigante americana Mosaic, mas, retrocedeu após desgastes com o governo. Na época, a companhia era alvo de críticas do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, por ter cortado o orçamento e demitido quase 2 mil funcionários para se ajustar ao cenário de crise global. No Brasil, a Vale já explora potássio na mina de Taquari-Vassouras, em Sergipe. Suas operações nessa área, no entanto, estão mais centradas no exterior. A companhia desenvolve um projeto de produção de fosfato em Bayóvar, no norte do Peru. A mina peruana tem capacidade para produzir 3,9 milhões de toneladas anuais de fosfato e previsão de entrar em operação no primeiro semestre de 2010. A Vale possui ainda dois depósitos comprados no ano passado da Rio Tinto, na Argentina e no Canadá, e que também estão em fase de maturação. DISPUTAA eventual aquisição da fatia da Mosaic na Fosfertil também serviria para colocar um ponto final na disputa entre dois sócios do bloco de controle. Em 2006, divergências entre a Bunge e a Mosaic foram parar na Justiça. O grupo Bunge tinha como meta fundir ativos da Bunge Fertilizantes com a Fosfertil e decidiu destituir os representantes da Cargill, controladora da Mosaic, do conselho de administração da empresa. A Cargill entrou na Justiça e o processo hoje está no Superior Tribunal de Justiça (STJ), com parecer favorável à Bunge.Para os analistas que acompanham a mineradora, a aquisição dos ativos da Bunge é positiva para a Vale porque garante uma entrada sólida no setor de fertilizantes, onde novas operações levam cerca de três a quatro anos para ter início. "A compra é boa para a Vale, pois diversifica o portfólio da empresa", diz o analista da Modal Asset, Eduardo Roche.Além de reduzir a representatividade do minério de ferro em suas vendas, a aquisição de ativos de fertilizantes também permite à Vale ingressar em um novo ambiente de negócio, diz o analista da XP Investimentos, William Castro Alves. "O mercado de fertilizantes é um mercado menos atrelado ao crescimento econômico mundial, e mais atrelado ao crescimento da renda da população." Ao mesmo tempo, a Vale é um sócio com condições de aportar recursos na Fosfertil e facilitar a aceleração dos investimentos da empresa em um mercado dependente das importações.
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