Chorei junto com Flávia Cintra e Emerson Damasceno ao ver a reportagem especial deste domingo, 2, no Fantástico, da Rede Globo, porque conheço muito bem os sentimentos que ambos experimentaram. Me acompanham diariamente o êxtase que Flávia expressou ao levantar, caminhar, até dançar com o exoesqueleto, e a dor exposta por Emerson ao falar sobre as enormes dificuldades que a população com deficiência enfrenta no Brasil.
As barreiras que encaramos ao longo da vida podem nos transformar em criaturas mais duras, exigem o uso de armaduras e os punhos cerrados para não permitir que nossa persona seja esmagada por observações preconceituosas e nossa individualidade desapareça no meio da estrutura capacitista ao redor.
Ainda assim, mesmo levantando escudos, em um esforço constante e extenuante, os sentimentos estão presentes. Na luta por inclusão e respeito, muitas vezes, somos obrigados e trancar as sensações mais íntimas e partir para o confronto.
Flávia empregou sua habilidade jornalística e a grande experiência que acumula na TV para produzir uma matéria genuína, conduziu a pauta com excelência e eliminou da história o gancho piegas que ainda é usado no telejornalismo quando pessoas com deficiência são o tema principal.
Ao deixar claro que não era um conto sobre a 'cura da deficiência', mas de uma exposição verdadeira dos avanços da ciência e da medicina para ampliar as possibilidades de mobilidade, ao destacar a importância do movimento para o corpo humano, Flávia quebrou a redoma, transcendeu, reforçou que não buscamos piedade ou reivindicamos heroísmo. Precisamos apenas de acessibilidade.
Desde o começo, quando a senadora Mara Gabrilli (PSD-SP) foi a Nova York (EUA), acompanhada por Linamara Rizzo Battistella, professora titular de fisiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e idealizadora da Rede Lucy Montoro, a visibilidade que essa história ganhou tem de ser celebrada, independentemente das avaliações sobre ganhos políticos da parlamentar e de que forma nosso Sistema Único de Saúde (SUS) vai aplicar essa tecnologia no dia a dia de pacientes.
Há, claro, muitas formas de avaliar como todo esse conteúdo tem sido trabalhado pela grande imprensa e devemos sempre questionar por quais motivos outras pautas fundamentais da população com deficiência não ganham a mesma atenção das redações, mas é inegável que o trabalho da Flávia Cintra tem de ser aplaudido, exatamente porque fez, e está fazendo, milhões de espectadores refletirem a respeito do corpo com deficiência e dos obstáculos que encaramos.
A reportagem completa, com texto e vídeo, está no G1.