Curta Facebook.com/VencerLimitesSiga @LexVenturaMande mensagem para blogvencerlimites@gmail.comO que você precisa saber sobre pessoas com deficiência
"Tivemos a felicidade de manter a tranquilidade para fazer o gol na prorrogação. O grupo é muito experiente, aprendeu a ganhar, e não se abate facilmente. Dá para dizer que somos o time a ser batido". A afirmação de Fábio Luiz Vasconcelos, treinador da Seleção brasileira de 'Futebol de 5', é um reflexo da confiança da equipe, que venceu nesta segunda-feira, 24, o campeonato mundial, disputado no Japão. Com essa conquista, o time brasileiro tornou-se tetracampeão.
A modalidade esportiva foi desenvolvida especialmente para atletas cegos. As partidas são disputadas em quadra de futsal, que recebe uma proteção nas laterais para evitar a saída da bola. Em 2004, a partir dos Jogos Paralímpicos de Atenas, passou a ser praticado também em campos de grama sintética, com medidas e regras do futebol de salão.
Cada time é formado por cinco jogadores: um goleiro (que tem visão total) e quatro na linha (totalmente cegos e que usam uma venda nos olhos porque qualquer resíduo visual é uma vantagem). Há ainda o 'Chamador', que fica atrás do gol adversário orientando o ataque de seu time.
No Brasil, o Futebol de 5 tem gestão da Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV). Recentemente, em agosto, a equipe brasileira masculina venceu a Super Copa das Nações, disputada na sede da Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos (Andef), em Niterói/RJ. Na final, o Brasil venceu o México por 3 a 2.
Nesta competição, durante a concentração, alguns jogadores relaxavam jogando videogame, tranferindo para a disputa na tela a mesma estratégia da equipe em quadra. Os atletas da linha, cegos, manuseiam os controles. E os dois goleiros fazem a 'localização' do time em campo, orientando o companheiro de equipe. Os vídeos de uma dessas partidas foram cedidos pelo jornalista Fabio Torres, com exclusividade, ao blog Vencer Limites. Cássio (defensor fixo ou zagueiro) e Gledson (ala) estão com os controles. Luan e Vinícius (goleiros) fazem a 'localização'.
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Cássio é fãs dos jogos eletrônicos e diz que jogar videogame é uma sensação incrível. "Quando temos uma narração bem feita, seja do próprio jogo ou dos goleiros nos ajudando, a gente consegue construir um mapa na cabeça. Assim, criamos jogadas de passes e gols. O ideal é jogar sempre com times que já conhecemos, pois vamos saber por onde a bola está. Se tiver com o Daniel Alves, por exemplo, a situação será pelo lado direito de campo. E por aí vai. Saber tudo o que envolve o futebol ajuda. Se entendemos como tal atleta joga, se é rápido, habilidoso, vamos aproveitar as melhores características dele. Se jogarmos com a formação 4-3-3, já vou saber que tenho que jogar com dois pontas velozes para criar jogadas para o atacante no meio. Conhecendo a formação, você sabe como as jogadas da equipe vão funcionar", diz Cássio.
Para entender um pouco mais o Futebol de 5, este blog entrevistou Cássio, que aparece no vídeo, e Jefinho, o melhor do mundo atualmente (que não costuma jogar videogame). Além de falar sobre o esporte, eles também opinam sobre outro temas relacionados a pessoas com deficiência.
Vencer Limites - Como o esporte ajuda no dia a dia? O futebol contribui para a vida, a rotina e as questões domésticas?
Jefinho - O esporte me ajudou e me ajuda muito até hoje. Com toda certeza, praticar futebol me auxiliou para que eu tivesse uma coordenação melhor, em todos os sentidos. A minha noção de espaço, orientação e locomoção nos ambientes, tudo isso foi aprimorado através dos treinos. Hoje eu tenho uma boa independência, graças ao esporte.
Cássio - O futebol é importante financeiramente. Socialmente, ele consegue nos incluir de uma forma muito gratificante. Nos permite relacionar com todo mundo numa boa, sem problemas. Domesticamente, eu eu consigo realizar todas as atividades em casa, como lavar o banheiro, limpar a louça sem nenhum desgaste físico.
Vencer Limites - Qual a sua opinião sobre a situação das pessoas com deficiência no Brasil, principalmente na comparação com outros países, no que diz respeito a acessibilidade, educação, saúde, etc?
Jefinho - Infelizmente, ainda estamos muito longe das condições ideais para que uma pessoa com deficiência possa viver bem aqui no Brasil. Viajando por outros países, eu percebi que o tratamento lá é diferente. Na acessibilidade, aqui no Brasil, a maioria das cidades não está preparada para a locomoção de deficientes. Ruas sem rampas e sem pista tátil, transportes inadequados. Já no exterior, as cidades são bem acessíveis, facilitando a vida dos deficientes. Na educação, houve uma melhora significativa nos últimos anos, mas os professores ainda não estão plenamente capacitados para atender e ensinar da forma correta. Porque, apesar da deficiência, as pessoas são capazes de realizar muitas tarefas normalmente, e os professores tem uma função importantíssima, que é incluí-las com pessoas sem deficiência. Então, há muita coisa para ser melhorada. Vários países se aproveitaram de realizações de eventos esportivos para que um legado fosse deixado para toda a população. E eu acredito, que as Olimpíadas e Paralimpíadas do Rio serão de fundamental importância para que o Brasil dê um grande salto, e finalmente possa resolver todas essas questões.
Cássio - O grande problema da acessibilidade é que a população, no geral, não está preparada para lidar com os deficientes visuais. Não há noção da nossa capacidade de locomoção e atividade. No lado mais 'material' da coisa, estamos numa época em que a projeção é feita. Melhora aos poucos, mas está muito longe do ideal. Se compararmos com 10 anos atrás, vamos ver o quanto evoluímos, mas ainda temos muito o que melhorar. Eu tive o prazer de conhecer a Áustria e fiquei impressionado com a educação das pessoas com os deficientes. Eles estão preparados, tem toda uma política voltada para as pessoas com deficiência. A divulgação do esporte e do nosso cotidiano tem um papel fundamental na conscientização das pessoas sobre a nossa realidade e capacidades.
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