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Diversidade e Inclusão

Importa pelo tempo de um post

Mulher se recusa a abrir espaço dentro do ônibus para homem negro em cadeira de rodas passar.

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Por Luiz Alexandre Souza Ventura
Atualização:
Identidade da passageira é desconhecida.  


Um homem negro em cadeira de rodas pede passagem dentro do ônibus, mas uma mulher branca, em pé, se recusa a ceder espaço. Outros passageiros entram na situação, tentam resolver o impasse, tem gente que xinga, alguém filma e o caso vai imediatamente para as redes sociais.

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O sujeito na cadeira de rodas já havia enfrentado problemas no elevador da estação-tubo (nome da estrutura de acesso ao veículo em Curitiba, onde ocorreu o caso), por isso entrou pela última porta do coletivo articulado e precisava se locomover até o local determinado para a cadeira de rodas.

A mulher filmada reage agressivamente. Segundo relatos, ela teria dito "não vou sair porque não tenho porque sair, não estou na floresta, não sou culpada de você ser assim desse jeito".

Não há como saber por quais motivos a mulher agiu dessa forma, se é uma pessoa que estava num dia ruim, se é racista e capacitista ou foi coisa do momento.

O angolano Angelino Caquinda Cassova Domingos, estudante do oitavo período de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o homem negro na cadeia de rodas, voltava do trabalho para casa. Certamente, não é a primeira vez que ele enfrenta o capacitismo, o racismo e outros preconceitos, mas disse a alguns veículos de imprensa que nunca havia vivenciado algo semelhante.

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De qualquer forma, Angelino não fez nenhum registro sobre a situação na polícia, não há ocorrência oficial, a Guarda Municipal não foi acionada, o nome da mulher é desconhecido e fica tudo por isso mesmo.

Qual seria o resultado se Angelino apenas decidisse passar sem pedir licença e a mulher imóvel não tivesse escolha a não ser sair da frente? Qual seria a continuidade dessa história se um homem negro em cadeira de rodas atropelasse uma mulher branca dentro do ônibus? Para onde apontariam as câmeras?

Atos capacitistas e racistas precisam ser sempre divulgados, denunciados, mas tem um componente sádico nessa história, no vídeo que está percorrendo as redes. Quem assiste fica indignado, por alguns segundos, até rolar para o próximo post.

É a dinâmica da vida das pessoas com deficiência, das pessoas negras, do dia a dia cercado pela discriminação, da rotina de enfrentamento do ódio, que importa somente pelo tempo de uma publicação na Internet.


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