Pietra Mesquita, de apenas 7 anos, já é uma pioneira. Ela tem paralisia cerebral e, dois meses atrás, se tornou a primeira pessoa com deficiência a fazer parte da Orquestra Maré do Amanhã, projeto criado há 11 anos pelo maestro Carlos Eduardo Prazeres para identificar e formar jovens músicos nas 16 comunidades do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro.
O interesse pela música surgiu dois anos atrás, quando integrantes da orquestra foram dar aula na escola que Pietra frequentava. Logo no primeiro momento, o violino se tornou o instrumento preferido.
As dificuldades criadas pela pandemia afastaram Pietra da escola e da música, até que Juliana Mesquita, mãe da menina, procurou a orquestra para saber se uma criança com deficiência poderia fazer parte. A invisibilidade das pessoas com deficiência torna incompletos até mesmo projetos que realmente atuam pela inclusão, o que ainda exige de mães e pais atitudes para quebrar a redoma.
A chegada de Pietra à Orquestra Maré do Amanhã já modificou muita coisa, primeiro no ambiente interno. "É um marco na nossa história. Música, arte, educação e cultura são para todos. Temos aprendido muito com a Pietra. E tenho certeza que ela também aprende muito conosco", afirma o maestro Carlos Eduardo Prazeres.
"Essa troca é extremamente importante, para ela e para nós. Só posso agradecer", diz Prazeres.
"Acompanhar cada progresso no desenvolvimento da Pietra, cada nota correta tirada no violino e a sua resposta imediata aos comandos dos instrutores, é bastante recompensador", comenta o maestro.

Os benefícios para Pietra também são claros, principalmente nos ganhos para a saúde física e emocional, postura e autoestima.
"A forma acolhedora com que todos da orquestra nos receberam, enxergando Pietra além da deficiência e com foco único na música. É extremamente gratificante vivenciar essa experiência, aplaudir cada avanço e conquista dela", diz Juliana Mesquita.
"A música tem um grande poder de potencializar as habilidades e talentos de crianças e adolescentes, trazendo grandes benefícios para a saúde e o aumento da sensação de bem-estar e qualidade de vida. Além disso, é capaz de melhorar significativamente a capacidade de concentração, a escuta, as interações sociais e a coordenação motora, pontos que são bastante estimulados com todos os alunos, com ou sem deficiência, durante os ensaios", ressalta o maestro.
A outra modificação provocada pela chegada de Pietra à orquestra vem de fora. A partir da presença dela no grupo, pais outras crianças e adolescentes com deficiência já procuraram o grupo para fazer inscrição.
Nos últimos quatro anos, a Orquestra Maré do Amanhã tem recebido apoio do Grupo Assim Saúde, por meio da Lei Rouanet.