
Neste 63º episódio da coluna Vencer Limites na Rádio Eldorado FM (107,3), falo sobre a suposta inclusão na Copa do Qatar e indico a leitura de 'Crônicas para um mundo mais diverso'.
A Copa do Qatar está sendo chamada com excessivo entusiasmo de 'Copa da Inclusão', mas inclusão de quem? Porque mulheres e a população LGBTQIAP+ não fazem parte dessa turma. E a presença de uma única pessoa com deficiência na cerimônia de abertura não torna o evento automaticamente inclusivo.
O jovem que apareceu ao lado do ator americano YouTube tem 800 mil inscritos, é paratleta, palestrante, já recebeu vários títulos e honrarias de instituições do Qatar e também internacionais, é embaixador da Copa do Qatar.
É fundamental que pessoas com deficiência ocupem todos os espaços, que sejam vistas, ouvidas, comentadas, mas não podemos tratar essas conquistas como favores, benevolências, como se fôssemos figuras folclóricas apresentadas num circo. Também não devemos assumir que a acessibilidade apresentada pelo governo do Qatar para a copa, nos estádios e na cidade, seja uma caridade, porque esses recursos são obrigatórios.
Inclusão pela metade, com exclusão, com segregação, com supressão de direitos, com violência contra a diversidade, não é inclusão, é o exato oposto disso. E a maneira como o Qatar trata as mulheres, as identidades de gênero e orientações sexuais diferentes do heteronormativo afasta qualquer possibilidade de ser inclusivo.
Essa falsa inclusão está escancarada, por exemplo, na proibição a qualquer manifestação relacionada às questões LGBTQIAP+, com a prisão de quem falar sobre isso, vestir roupas com alusões a essa causa ou demostrar abertamente essa identidade.
Nem mesmo os capitães das seleções que participam da competição podem sequer usar faixas sobre esse tema nos braços, com a Fifa prestando-se a um deplorável papel de executora da intolerância, ameaçando punir esses jogadores dentro de campo, exatamente no momento mais oportuno para mostrar que está alinhada com o tempos atuais.
Especificamente sobre a questão LGBTQIAP+, não se trata apenas da população do Qatar ou dos visitantes que foram acompanhar a Copa do Mundo. É uma questão mundial, de combate à intolerância e à violência.
No que diz respeito às pessoas com deficiência e à comemoração pela inclusão na cerimônia de abertura, não é mais aceitável usar essa imagem para propagar uma mensagem falsa sobre diversidade. Não somos bobos da corte.

'Crônicas para um mundo mais diverso' (Editora Senera), segundo livro do Jairo Marques, lançado oficialmente no dia 17 de novembro, "é uma coletânea de histórias sobre pluralidade, convivência, amor e respeito".
Jairo Marques é colunista, blogueiro e comanda a editoria 'Vida Pública' da Folha de S. Paulo.
São 100 textos, entre escritos exclusivos e artigos publicados na Folha nos últimos dez anos. É a segunda publicação literária do Jairo, que também esreveu 'Malacabado: a História de um Jornalista Sobre Rodas' (Editora Três Estrelas / 2016).
Neste novo trabalho, o autor reflete sobre a vida, se vê como pai, filho, amigo, jornalista, e conduz o leitor pelos buracos das ruas, pelas dificuldades de acesso, pelas mudanças sociais".
"Afetos, doçura, perrengues, raivas e reconstruções fazem parte desse percurso, narrado com peculiaridade por ele, que, mais do que um repórter-cronista-pai e tantos outros papéis que antecedem o adjetivo cadeirante, é um apaixonado pelo humano, por aquilo que nos torna mais vulneráveis e ao mesmo tempo mais fascinantes: a diferença, a singularidade. Por isso este é um livro sobre amor. Amor à vida, suas possibilidades, e amor pela convivência, pela diversidade", diz o resumo.