Sobreviventes e parentes das vítimas da chacina de julho passado na Noruega choraram e ridicularizaram o depoimento judicial prestado na segunda-feira pelo sorridente agressor, que se vangloriou de defender o país da imigração. Anders Behring Breivik, que matou 77 pessoas, provocou lágrimas e risos do público ao fazer uma saudação de ultradireita e dizer que promoveu o massacre para evitar a destruição cultural da Noruega. "O jeito como ele falava, o jeito como sorria (...), tudo me fez perceber que ninguém tem a mesma imagem do mundo que ele", disse Helene Georgsen, 17, que sobreviveu aos tiros que Breivik disparou em uma ilha nos arredores de Oslo, depois de deixar uma bomba no centro da capital. Breivik foi ao tribunal vestindo terno preto e gravata prateada. "Os ataques contra a sede do governo", disse ele, "foram ataques preventivos contra os traidores da nação, gente comprometida ou planejando se comprometer com a destruição cultural, inclusive com a destruição da cultura norueguesa e da etnicidade norueguesa". Ele admitiu o atentado a bomba e o massacre a tiros na ilha de Utoya, crimes pelos quais deve ser julgado a partir de 16 de abril. Mas o jovem usou a audiência de segunda-feira, um procedimento de rotina, para pleitear sua libertação, sob a alegação de que "pessoas submetidas a genocídio" têm o direito de se defender. O pedido foi negado. "Nós no movimento norueguês não vamos ficar sentados para vermos que somos transformados em minoria no nosso próprio país", disse ele. "Os noruegueses étnicos serão minoria em Oslo nos próximos dez anos. Isso é fato. Represento a resistência norueguesa." "Que palhaço", comentou na galeria o espectador Freddy Lie, 52 anos, que teve uma filha morta e outra ferida no acampamento. "A única coisa que lhe faltou foi o nariz vermelho. Quando ele se senta e olha para nós como fez, dá para ver que é doente." Ao entrar no plenário, Breivik colocou um punho no peito e ergueu os braços algemados, no que seu advogado disse ser uma saudação a outros militantes de ultradireita. Depois, olhou várias vezes para a galeria, composta por cerca de 60 sobreviventes e parentes de vítimas, e por 64 jornalistas. Ao ler um calhamaço de anotações que trazia, tinha a voz calma. Alguns membros da plateia inicialmente choraram, como foi o caso de Anette Davidsen, 18 anos, sobrevivente da ilha. "Foi difícil olhar para ele e vê-lo sorrir", afirmou a moça. "Eu pude ver que ele não se arrepende pelo que fez, e eu perdi muitos amigos." Depois, ao ouvir as declarações de Breivik, Davidsen juntou-se ao riso dos demais. "Ele foi ridículo. O jeito como falava, o jeito como sorria. Foi bom rir dele." Dois psiquiatras nomeados pela Justiça declararam que Breivik é mentalmente incapaz de responder por seus atos. Por causa da indignação popular contra essa decisão, os juízes do caso solicitaram uma nova perícia. Independentemente do resultado, ele será submetido a julgamento.
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