Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), no interior do Estado de São Paulo, anunciou, nesta quarta-feira, o desenvolvimento de uma nova molécula, que pode vir a se transformar numa potente droga contra o câncer. Feita à base do metal paládio, o novo composto químico já foi testado em ratos com resultados promissores. Nos animais, ele inibiu o crescimento do tumor e impediu a metástase (disseminação do câncer para vários órgãos do corpo). O próximo passo será o teste em humanos. Segundo o coordenador da equipe, o químico Antonio Carlos Fávero Caires, 9 entre 15 grandes laboratórios farmacêuticos internacionais consultados se mostraram interessados em conhecer a nova molécula. "Desses, três estão dispostos a realizar testes em pessoas." Antes do acerto, é preciso resolver a questão da patente. A princípio, sua detentora será a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que investiu US$ 2 milhões no estudo, entre compra de equipamentos e montagem de laboratórios. A UMC pagou o salário dos pesquisadores. "A Fapesp depositou o pedido de patente no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) em 30 de agosto", explica Caires. "A partir desse dia, temos um ano para conseguir uma patente internacional, caso contrário nosso trabalho cai no domínio público." Para chegar ao novo composto químico, um oganometálico - o metal paládio ligado a elementos orgânicos - os pesquisadores partiram da enzima catepsina-B, presente em mais de 90% de todos os tipos de câncer. De acordo com Caires, ela tem papel importante na modulação do sistema imunológico, na metástase e na angiogênese (criação anormal de vasos sanguíneos em volta do tumor para alimentá-lo). O que Caires e sua equipe fizeram foi sintetizar, em laboratório, a nova molécula, capaz de se ligar a essa enzima. Depois, eles induziram a formação de tumores em ratos e ministraram a eles o novo composto químico. Uma vez no interior das células cancerosas, a molécula criada ligou-se à catepsina-B, alterando a forma tridimensional. Como a função de toda proteína está ligada à sua forma, uma vez modificada, também será alterado seu funcionamento. A inibição da catepsina-B fez o tumor sofrer vários tipos de ataques. "Um deles foi impedir a metástase", explica Caires. "Como a catepsina-B é responsável pelo rompimento das células cancerosas (e o conseqüente espalhamento do material tumoral na corrente sanguínea, levando à disseminação do câncer por todo organismo), sua inibição impediu esse processo." A mesma inibição da enzima levou o sistema imunológico a aumentar a produção de seus agentes de combate. "O câncer passou a ser visto como um inimigo, o que não ocorre normalmente, pois ele se origina das próprias células do indivíduo", explica Caires. "Outro resultado observado foi a redução da angiogênese. Com menos vasos sanguíneos para alimentá-lo, o tumor regrediu." Apesar desses resultados promissores, a equipe é cautelosa sobre a possibilidade de seu trabalho vir a se transformar num novo fármaco. "Vai depender das empresas dispostas a investir", pondera Caires.
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