Imagine como seria sua vida se, ao invés de sentir cheiros com o nariz, seu órgão olfativo estivesse na ponta dos dedos. Ao invés de levar toda a cara para perto da panela, bastaria colocar o dedo perto do cozido. Esta é a realidade das aranhas. Foi descoberto que seus sensores de cheiros estão nas patas.
Faz tempo que sabemos que as aranhas usam o olfato para caçar e localizar parceiros sexuais, mas existia um mistério: ninguém conseguia achar onde estavam os receptores do olfato.

Um grupo de cientistas resolveu esse mistério usando uma espécie de aranha chamada Argiope bruennichi. Eles a escolheram pois o uso do olfato é bem estudado nessa espécie. Os machos vão atrás das teias construídas por fêmeas virgens para copular, atraídos por um feromônio produzido somente pelas virgens. E mais: esse feromônio foi isolado e sua estrutura química, elucidada. Isso permitiu que ele fosse sintetizado no laboratório.
Para procurar o “nariz” do macho, os cientistas analisaram a superfície do animal com um microscópio eletrônico procurando buracos por onde os cheiros pudessem chegar ao sistema nervoso. No nosso caso, esse buraco é a narina. Foi assim que eles encontraram centenas de minúsculos buracos na superfície dos pelos que existem nas patas das aranhas macho.
As fêmeas, que não respondem a cheiros, não têm esses orifícios. Mas onde levavam esses orifícios? Fazendo cortes transversais nos pelos (da mesma maneira como fatiamos uma baguete) e examinando as fatias no microscópio, os cientistas observaram que esses buracos levavam a uma pequena cavidade na qual estavam terminações de células do sistema nervoso (como as que existem no interior de nossas narinas).
Essa era a possível estrutura olfativa da aranha: as moléculas do feromônio presentes no ar entram nos orifícios e estimulam as células nervosas. Um tipo de nariz nas patas.
Mas era preciso demonstrar que isso era o que de fato ocorria. Precisavam demonstrar que o feromônio entrava pelos buracos. Num primeiro experimento, eles colocaram as aranhas num picadeiro e puseram um papel embebido com feromônio num dos cantos. Observaram que a aranha ia na direção do papel. Aí, diminuindo a quantidade de feromônio, descobriram o mínimo necessário para atrair a aranha.

No último experimento, imobilizaram as aranhas e colocaram um eletrodo dentro do pelo, de modo a medir a atividade do neurônio que estava na proximidade do orifício. Feito isso, aproximaram o papel com feromônio do orifício e observaram que sempre que havia feromônio no ar na entrada do orifício, as células neuronais dentro do pelo eram ativadas e mandavam sinais para o cérebro.
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Pronto. Com isso ficou demonstrado que o feromônio dissolvido no ar penetra pelos orifícios, atinge a célula nervosa, que é ativada e envia o sinal para o cérebro. Estava descoberto o nariz da aranha -, que sabíamos que existia, mas não sabíamos onde ficava.
Nós, humanos, quando queremos saber se estamos cheirando mal debaixo dos braços, passamos a mão no local e depois levamos a mão ao nariz e cheiramos. Se fôssemos uma aranha, bastava colocar o dedo lá para sentir o cheiro. Cheirando com o dedo nossa percepção do mundo seria muito diferente. Imagine as possibilidades. Tenho pena das aranhas fêmeas que aparentemente vivem sem o sentido do olfato.
Mais informações: Olfaction with legs—Spiders use wall-pore sensilla for pheromone detection