O Conselho Superior da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) deve definir amanhã, em sua reunião mensal, a lista tríplice de indicados para o próximo mandato de diretor científico da instituição. A expectativa é que o físico Carlos Henrique de Brito Cruz seja reconduzido ao cargo pela quarta vez, segundo fontes ouvidas pela reportagem.
A seleção ocorre num momento turbulento da ciência paulista, após o corte de R$ 120 milhões no orçamento da Fapesp, que estremeceu a relação do Palácio dos Bandeirantes com a comunidade científica. O governo já se comprometeu a recompor o orçamento, com o entendimento de que o dinheiro será destinado exclusivamente aos institutos de pesquisa da administração pública -- algo que muitos na comunidade científica vêem como uma interferência política na autonomia da Fapesp. Entre os desafios do novo diretor científico estará, justamente, supervisionar a destinação e execução desses recursos.
O Conselho Superior, órgão máximo da fundação, é formado por 12 membros. Seis são indicados diretamente pelo governador; outros seis são escolhidos por ele com base em listas tríplices formuladas pelas instituições de ensino e pesquisa do Estado. A composição atual, copiada ao final deste texto, inclui três ex-reitores da Universidade de São Paulo (USP), um ex-reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), um ex-reitor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), e outros acadêmicos, além de dois representantes do setor empresarial e de inovação.
As pautas das reuniões não são divulgadas publicamente, mas a expectativa é que a lista tríplice para diretor científico seja definida amanhã, segundo fontes próximas ao conselho.
Qualquer pessoa pode ser indicada para o cargo, que é um dos mais importantes da ciência paulista. A decisão final caberá ao governador Geraldo Alckmin. Via de regra, o primeiro nome da lista é o escolhido; mas podem haver surpresas. Na eleição para reitor da USP de 2009, por exemplo, o então governador José Serra escolheu para o cargo o diretor da Faculdade de Direito, José Grandino Rodas, que era o segundo nome da lista -- em vez do mais votado no processo eleitoral interno da universidade, que foi o biofísico Glaucius Oliva, do Instituto de Física de São Carlos.
Brito Cruz está na diretoria científica da Fapesp desde abril de 2005 (quatro mandatos consecutivos de três anos) e é uma figura muito respeitada na comunidade científica e acadêmica. Já foi presidente da Fapesp (1996-2002) e reitor da Unicamp (2002-2005). Seu mandato atual termina em 25 de abril.
O diretor científico é o principal interlocutor da Fapesp com a sociedade, influenciando na definição de prioridades, na criação de programas e no direcionamento dos investimentos em pesquisa da fundação de uma forma geral.
Expectativas. "O que a comunidade científica espera é que o diretor científico seja um acadêmico de destaque, um pesquisador que entenda a academia, que faça parte dela, publique bons artigos e tenha impacto na ciência; pois só assim nós seremos representados cientificamente, fora da política", diz o bioquímico Daniel Martins de Souza, de 37 anos, professor do Instituto de Biologia da Unicamp. Ele elogia a ênfase dada por Brito Cruz ao programa Jovens Pesquisadores da Fapesp, que tem atraído muitos jovens cientistas de volta ao Brasil -- incluindo ele próprio. "É um programa que tem sido essencial para a nucleação de novos docentes no país", afirma Souza, que voltou da Alemanha para São Paulo em 2014.
Além da diretoria científica, também deverá definida uma lista tríplice para o cargo de diretor administrativo da Fundação. O agrônomo Joaquim José de Camargo Engler, que estava na função desde 1993, concluiu seu mandato em fevereiro.
Integrantes do Conselho Superior da FAPESP:
José Goldemberg (presidente)
Eduardo Moacyr Krieger (vice-presidente)
João Fernando Gomes de Oliveira
Correção: A versão original desta reportagem dizia que o diretor administrativo Joaquim Engler havia sido "dispensado" do cargo em 14 de fevereiro. Na realidade, seu mandato acabou e ele não é mais pretendente ao cargo.