Proteínas que compõem todos os seres vivos da Terra, de bactérias a baleias, têm uma espécie de assinatura comum que pode ter sido determinada no espaço sideral. Análise de um meteorito descoberto na Antártida mostra que até mesmo os elementos mais básicos das moléculas trazidas do espaço têm, em sua maior parte, uma assinatura idêntica à da vida terrestre. Pesquisa feita nos EUA diz que núcleo da neve contém bactérias Moléculas complexas de um mesmo tipo podem ter orientações diferentes - chamadas "esquerda" ou "direita" - dependendo do modo como os átomos estão arrumados dentro da estrutura: a forma "direita" é idêntica à imagem da "esquerda" refletida no espelho, e vice-versa. Na composição da vida na Terra, todos os aminoácidos - blocos formadores de proteínas - que apresentam essa diferença de orientação são "esquerdos", algo que intriga os cientistas, já que as chances de os átomos se organizarem de uma forma ou de outra são iguais. Anos atrás, a análise do chamado meteorito Murchison, descoberto em 1969 na Austrália, mostrou uma preponderância de aminoácidos esquerdos, sugerindo que algumas moléculas precursoras da vida podem ter vindo do espaço e, ao mesmo tempo, oferecendo uma explicação para a assinatura dos aminoácidos que compõem os seres vivos. No entanto, críticos levantaram a possibilidade de o material no meteorito ter sido contaminado por moléculas de origem terrestre. Agora, cientistas - incluindo Sandra Pizzarello, uma pesquisadora que já havia trabalhado com o Murchison - afirmam ter encontrado em um novo meteorito, descoberto na Antártida e descrito como livre de contaminação, uma predominância não só de aminoácidos, mas de aldeídos - os elementos formadores dessas moléculas - "canhotos". O trabalho está publicado numa edição antecipada do periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). Sandra diz que o mecanismo exato para a produção de um excesso de moléculas de orientação esquerda no espaço não é conhecido, mas que alguns tipo de radiação poderiam destruir mais elementos de uma variedade de aminoácido do que da outra, possivelmente no meio interestelar. Mas a radiação acabaria eliminando ambas as variedades depois de algum tempo, explica. "A descoberta de assimetria nos aldeídos é interessante quanto a isso, porque eles absorvem uma radiação mais suave e poderiam fazer a síntese assimétrica no espaço", diz ela. "Mas essas sínteses ainda não foram estudadas com esta hipótese em mente. Espero que alguém faça isso logo". A pesquisadora lembra, ainda, que nunca foi feita uma busca por moléculas de uma orientação específica em nuvens de gás distantes do Sistema Solar. "Estudar moléculas em nuvens interestelares é um processo muito complicado e limitado", explica. "Só podemos observar as moléculas que 'vemos' em infravermelho e rádio". Sandra não vê, no entanto, os novos resultados como um apoio à teoria da panspermia, que é a idéia de que a vida em si, e não apenas algumas moléculas constituintes, surgiu no espaço e foi "semeada" na Terra, por meteoritos ou cometas. "A panspermia é levantada por conta da profunda frustração com o fato de sabermos tão pouco sobre a origem da vida. Se você pensar nisso, no entanto, verá que a teoria também é frustrante, porque apenas empurra o mistério para mais longe", diz.
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